Afetivo, Martinho realça a modernidade de Noel
Resenha de CD
Título: Poeta da Cidade - Martinho Canta Noel
Artista: Martinho da Vila
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
Volta e meia, Martinho da Vila abordou a obra de Noel Rosa (1910 - 1937), o poeta da Vila Isabel que gerou o sobrenome artístico ao compositor de Casa de Bamba. Só que nunca havia dedicado um disco ao cancioneiro de Noel como faz neste Poeta da Cidade, CD idealizado para ser encartado em livro que acabou não sendo editado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro (RJ). Sem livro, o CD - de início previsto para ser lançado de forma comercial somente no fim do ano - chega às lojas neste mês de maio de 2010. Poeta da Cidade é título emblemático na discografia de Martinho por marcar seu oportuno reencontro com Rildo Hora - o produtor da parcela mais expressiva de sua obra fonográfica, com quem o sambista não trabalhava desde 2002 - e por marcar a estreia do artista na gravadora Biscoito Fino. Com majestoso projeto gráfico de Elifas Andreato, outra bela marca da discografia áurea de Martinho, o CD festeja os 100 anos que Noel completaria em 11 de dezembro de 2010. Entretanto, acima de efemérides, tem grande valor por realçar e reiterar a modernidade da produção autoral do Poeta da Vila, hábil cronista da cidade do Rio de Janeiro. Com o intuito de evidenciar o talento ímpar do compositor projetado em 1929 e consagrado já no início dos anos 30, Martinho selecionou músicas assinadas somente por Noel. A exceção é Filosofia (1933), o samba composto com André Filho (1906 - 1974) que abre Poeta da Cidade sem o brilho e força da gravação feita por Mart'nália em 2002 para o álbum Pé do meu Samba. Na sequência, a mesma Mart'nália engata dueto com o pai em Minha Viola (1929), embolada à moda caipira que ganha toques de samba no arranjo conduzido pelo violonista Maurício Carrilho. Da mesma cepa rural de Minha Viola, música já gravada pelo cantor no álbum Martinho da Vila Isabel (1984), o CD encadeia E Não Brinca Não (1932), tema em que o canto livre, leve e solto do sambista soa lúdico - em sintonia com esse título pouco ouvido da obra de Noel. A gaita de Rildo Hora é a cereja do macio bolo sonoro da faixa. Em seguida, Mart'nália volta à cena e, em duo mais terno com Martinho, traz Rapaz Folgado (1933) para o universo da gafieira por conta dos metais que pontuam o arranjo de Carrilho. Sozinho, o anfitrião valoriza a verve dos sambas de Noel em Seja Breve (1933). A faixa ostenta a bossa que salta aos ouvidos também em Coisas Nossas (1932), samba no qual figura Analimar Ventapane, filha de Martinho, convidada também de Quando o Samba Acabou (1933), tema mais lento em que Noel Rosa retratou disputa de amor que acabou em morte no Morro de Mangueira (RJ). A violência do Rio dos anos 30 é abordada com lirismo em outro samba, Século do Progresso (1934), de tons mais dolentes. Ana Costa é a convidada desse samba (hoje já obscuro) e de Eu Vou pra Vila (1930), tema mais alegre em que Noel celebra a mesma Vila Isabel de Martinho. Já O X do Problema (1936) ganha tom seresteiro e a voz de Aline Calixto, convidada também de Fita Amarela (1932), samba que já mereceu gravações mais vivazes. Do afetivo time feminino, contudo, quem compromete o disco é Patrícia Hora, ainda sem maturidade como intérprete para encarar um tema introspectivo como Três Apitos (1933). Em contrapartida, Maíra Freitas - a filha de Martinho que transita pela música clássica - imprime inusitado tom camerístico à obra-prima Último Desejo (1937). Já contratada pela Biscoito Fino, Maíra canta e toca piano no dueto mais surpreendente deste Poeta da Cidade, tributo encerrado em clima carnavalesco com a marcha Cidade Mulher (1936). Enfim, escorado nos arranjos de Maurício Carrilho e Rildo Hora, Martinho canta Noel com doses exatas de reverência e criatividade neste tributo que honra o Poeta da Vila.
Título: Poeta da Cidade - Martinho Canta Noel
Artista: Martinho da Vila
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * *
Volta e meia, Martinho da Vila abordou a obra de Noel Rosa (1910 - 1937), o poeta da Vila Isabel que gerou o sobrenome artístico ao compositor de Casa de Bamba. Só que nunca havia dedicado um disco ao cancioneiro de Noel como faz neste Poeta da Cidade, CD idealizado para ser encartado em livro que acabou não sendo editado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro (RJ). Sem livro, o CD - de início previsto para ser lançado de forma comercial somente no fim do ano - chega às lojas neste mês de maio de 2010. Poeta da Cidade é título emblemático na discografia de Martinho por marcar seu oportuno reencontro com Rildo Hora - o produtor da parcela mais expressiva de sua obra fonográfica, com quem o sambista não trabalhava desde 2002 - e por marcar a estreia do artista na gravadora Biscoito Fino. Com majestoso projeto gráfico de Elifas Andreato, outra bela marca da discografia áurea de Martinho, o CD festeja os 100 anos que Noel completaria em 11 de dezembro de 2010. Entretanto, acima de efemérides, tem grande valor por realçar e reiterar a modernidade da produção autoral do Poeta da Vila, hábil cronista da cidade do Rio de Janeiro. Com o intuito de evidenciar o talento ímpar do compositor projetado em 1929 e consagrado já no início dos anos 30, Martinho selecionou músicas assinadas somente por Noel. A exceção é Filosofia (1933), o samba composto com André Filho (1906 - 1974) que abre Poeta da Cidade sem o brilho e força da gravação feita por Mart'nália em 2002 para o álbum Pé do meu Samba. Na sequência, a mesma Mart'nália engata dueto com o pai em Minha Viola (1929), embolada à moda caipira que ganha toques de samba no arranjo conduzido pelo violonista Maurício Carrilho. Da mesma cepa rural de Minha Viola, música já gravada pelo cantor no álbum Martinho da Vila Isabel (1984), o CD encadeia E Não Brinca Não (1932), tema em que o canto livre, leve e solto do sambista soa lúdico - em sintonia com esse título pouco ouvido da obra de Noel. A gaita de Rildo Hora é a cereja do macio bolo sonoro da faixa. Em seguida, Mart'nália volta à cena e, em duo mais terno com Martinho, traz Rapaz Folgado (1933) para o universo da gafieira por conta dos metais que pontuam o arranjo de Carrilho. Sozinho, o anfitrião valoriza a verve dos sambas de Noel em Seja Breve (1933). A faixa ostenta a bossa que salta aos ouvidos também em Coisas Nossas (1932), samba no qual figura Analimar Ventapane, filha de Martinho, convidada também de Quando o Samba Acabou (1933), tema mais lento em que Noel Rosa retratou disputa de amor que acabou em morte no Morro de Mangueira (RJ). A violência do Rio dos anos 30 é abordada com lirismo em outro samba, Século do Progresso (1934), de tons mais dolentes. Ana Costa é a convidada desse samba (hoje já obscuro) e de Eu Vou pra Vila (1930), tema mais alegre em que Noel celebra a mesma Vila Isabel de Martinho. Já O X do Problema (1936) ganha tom seresteiro e a voz de Aline Calixto, convidada também de Fita Amarela (1932), samba que já mereceu gravações mais vivazes. Do afetivo time feminino, contudo, quem compromete o disco é Patrícia Hora, ainda sem maturidade como intérprete para encarar um tema introspectivo como Três Apitos (1933). Em contrapartida, Maíra Freitas - a filha de Martinho que transita pela música clássica - imprime inusitado tom camerístico à obra-prima Último Desejo (1937). Já contratada pela Biscoito Fino, Maíra canta e toca piano no dueto mais surpreendente deste Poeta da Cidade, tributo encerrado em clima carnavalesco com a marcha Cidade Mulher (1936). Enfim, escorado nos arranjos de Maurício Carrilho e Rildo Hora, Martinho canta Noel com doses exatas de reverência e criatividade neste tributo que honra o Poeta da Vila.
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Volta e meia, Martinho da Vila abordou a obra de Noel Rosa (1910 - 1937), o poeta da Vila Isabel que gerou o sobrenome artístico ao compositor de Casa de Bamba. Só que nunca havia dedicado um disco ao cancioneiro de Noel como faz neste Poeta da Cidade, CD idealizado para ser encartado em livro que acabou não sendo editado pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro (RJ). Sem livro, o CD - de início previsto para ser lançado de forma comercial somente no fim do ano - chega às lojas neste mês de maio de 2010. Poeta da Cidade é título emblemático na discografia de Martinho por marcar seu oportuno reencontro com Rildo Hora - o produtor da parcela mais expressiva de sua obra fonográfica, com quem o sambista não trabalhava desde 2002 - e por marcar a estreia do artista na gravadora Biscoito Fino. Com majestoso projeto gráfico de Elifas Andreato, outra bela marca da discografia áurea de Martinho, o CD festeja os 100 anos que Noel completaria em 11 de dezembro de 2010. Entretanto, acima de efemérides, tem grande valor por realçar e reiterar a modernidade da produção autoral do Poeta da Vila, hábil cronista da cidade do Rio de Janeiro. Com o intuito de evidenciar o talento ímpar do compositor projetado em 1929 e consagrado já no início dos anos 30, Martinho selecionou músicas assinadas somente por Noel. A exceção é Filosofia (1933), o samba composto com André Filho (1906 - 1974) que abre Poeta da Cidade sem o brilho e força da gravação feita por Mart'nália em 2002 para o álbum Pé do meu Samba. Na sequência, a mesma Mart'nália engata dueto com o pai em Minha Viola (1929), embolada à moda caipira que ganha toques de samba no arranjo conduzido pelo violonista Maurício Carrilho. Da mesma cepa rural de Minha Viola, música já gravada pelo cantor no álbum Martinho da Vila Isabel (1984), o CD encadeia E Não Brinca Não (1932), tema em que o canto livre, leve e solto do sambista soa lúdico - em sintonia com esse título pouco ouvido da obra de Noel. A gaita de Rildo Hora é a cereja do macio bolo sonoro da faixa. Em seguida, Mart'nália volta à cena e, em duo mais terno com Martinho, traz Rapaz Folgado (1933) para o universo da gafieira por conta dos metais que pontuam o arranjo de Carrilho. Sozinho, o anfitrião valoriza a verve dos sambas de Noel em Seja Breve (1933). A faixa ostenta a bossa que salta aos ouvidos também em Coisas Nossas (1932), samba no qual figura Analimar Ventapane, filha de Martinho, convidada também de Quando o Samba Acabou (1933), tema mais lento em que Noel Rosa retratou disputa de amor que acabou em morte no Morro de Mangueira (RJ). A violência do Rio dos anos 30 é abordada com lirismo em outro samba, Século do Progresso (1934), de tons mais dolentes. Ana Costa é a convidada desse samba (hoje já obscuro) e de Eu Vou pra Vila (1930), tema mais alegre em que Noel celebra a mesma Vila Isabel de Martinho. Já O X do Problema (1936) ganha tom seresteiro e a voz de Aline Calixto, convidada também de Fita Amarela (1932), samba que já mereceu gravações mais vivazes. Do afetivo time feminino, contudo, quem compromete o disco é Patrícia Hora, ainda sem maturidade como intérprete para encarar um tema introspectivo como Três Apitos (1933). Em contrapartida, Maíra Freitas - a filha de Martinho que transita pela música clássica - imprime inusitado tom camerístico à obra-prima Último Desejo (1937). Já contratada pela Biscoito Fino, Maíra canta e toca piano no dueto mais surpreendente deste Poeta da Cidade, tributo encerrado em clima carnavalesco com a marcha Cidade Mulher (1936). Enfim, escorado nos arranjos de Maurício Carrilho e Rildo Hora, Martinho canta Noel com doses exatas de reverência e criatividade neste disco que honra o Poeta da Vila.
Pô, tomara que coloquem de novo no mercado a biografia dele.
Sou doida pra ler.
Com todo respeito ao grande mestre Martinho, mas pra mim ficou devendo. Sinceramente, eu esperava muito mais.
A idealização do projeto foi uma grande sacada, revisitar Noel no ano do seu centenário é oportuno, mas acho que teria ganho mais sem as excessivas participações especiais. A impressão que dá é a de que falta Martinho.
Gosto bem mais da Analimar do que da Mart'nália, mas ambas ficaram devendo. A melhor pra mim foi Aline Calixto.
E não gostei nada de Patrícia da Hora em Três Apitos. Gravação irritante.
Abraços e não entendi a cotação, eu escutei outro disco (talvez EU precise escutá-lo mais vezes para aprender a gostar). No mais ainda prefiro o projeto Uma noite Noel Rosa.
Marcelo barbosa - Brasília (DF)
PS: Minha Viola de 84, infinitamente superior a de agora.
PS2: Parabéns pela capa (reflexo das imagens) e pelo encarte, apesar da foto ser do dvd de Montreux. Elifas Andreatto é um craque e continua genial na parte gráfica, sobretudo no desenho do Noel que fica por baixo da bolacha.
PS3: Lamento pela falta do belo samba-enredo da Vila, do carnaval de 2010, composto pelo Martinho em homenagem ao Noel.
Mauro,
Só para ratificar que a postagem acima eu escrevi antes de ler a sua crítica. Acho que faltou Martinho. O excesso de participações atrapalhou muito na minha opinião, mas na questão de arranjos e de repertório é um bom disco (exagero por conta das quatro estrelas)
Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Legal a volta com o Rildo. É competente, um extraordinário maestro, produtor, fazia falta nos discos da Beth e do Martinho, mas ele que me desculpe, não dá para defender a cria. Decepcionou nos Três Apitos (e pensava que fosse somente eu).
Biscoito Fino e seus Papéis...muito lindo a capa do CD, um jogo de imagens que relata muito bem ao que foi sonorizado na mídia, porém eu digo: Não faltaram alguns rostos nessa capa também !?
Pois o que mais me chama a atenção no CD é a inconfundível, doce e saborosa voz de Aline Calixto, a carioca amineirada que já me fez sair de casa e ir até a uma loja numa noite, só para eu poder comprar seu CD, constatei que não estava ouvindo coisas!!! É explêndida. Sim outras participações como a de Maira Freitas, foi muito bem vinda...E ainda acho que não faria mal algum Martinho cantar com todas as estrelas que participam, ou salvo, as duas divas citadas acima, em uma faixa bonus, o grande sucesso: "Quem nasce lá na Vila, nem se quer vascila..."
Jones - RJ
Hoje pude apreciar esse cd, concordo com o amigo de BSB que reclama a falta do Martinho. No mais o repertório está impecável. No quesito participações, realmente Aline Calixto e Maira deram um show de bola. Aline pela deliciosa voz que vicia os ouvidos e Maira por trazer um toque mais erudito ao samba, com seu piano. O mestre Noel, com certeza vibrou com a bela homenagem!
Helio,
Eu escutei novamente o disco agora. O "problema" é a inconstância das participações especiais, a rara exceção acontece justamente com a Aline; as outras se saem bem em uma música e decepcionam na outra.
Por exemplo, eu adorei a versão da Ana Costa na música: Século do Progresso, acho inclusive um dos pontos fortes do disco, mas em Eu vou pra Vila ela não está tão bem quanto na primeira. Mesma coisa com Analimar. Boa em Quando o samba acabou e regular em Coisas Nossas. (Obs.: Adoro o canto da Analimar.)
Mas pra mim o melhores momentos são as músicas em que o Martinho canta sozinho, inclusive a marcha rancho Cidade Mulher.
Abraços e o biscoito é fino, o repertório e os arranjos (Maurício Carrilho e Rildo de parabéns!) são de primeira, mas o que matam são as participações que não se revelaram tão especiais assim.
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Gosto muito da proposta da gravadora Biscoito Fino, fico feliz pelo Martinho por estar numa gravadora cuidadosa. Só odeio as caixas dos cd's, não adianta, esse estilo musi "lixo" pac não me agrada. E pelo preço que cobram (justificado pelo conteúdo das obras e dos artistas) poderiam utilizar-se das caixas de acrílico.
Mauro,sinceramente...Aline Calixto esta estupenda!De longe a melhor.Classe e profunda compreenção do samba e da parceria com o Martinho com o que ele é.
Mauro, concordo com a sua cotação, achei o disco muito bom, gostoso de ouvir e evidenciou a modernidade da obra de Noel.
De todas as faixas realmente Ultimo desejo arrebatou de primeira, tanto que quis saber logo quem estava cantando, excelente.
Retificando: os melhores momentos... e ... mas o que mata ....
Abraços,
Marcelo Barbosa - Brasília (DF)
PS: Tenho um xará no blog em terras do Planalto Central? Quase um homônimo. Por favor, não confundam as opiniões. rs
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