Livro dá voz a 13 (dissonantes) cantoras negras
Resenha de Livro
Título: Solistas Dissonantes
- História (Oral) de Cantoras Negras
Autor: Ricardo Santhiago
Editora: Letra e Voz
Cotação: * * * *
"Posso até cantar um samba e canto mesmo - mas quando eu quiser cantar, não porque querem que eu cante", situa Leila Maria em sentença lapidar do depoimento para o jornalista e historiador Ricardo Santhiago, autor do ótimo livro Solistas Dissonantes - História (Oral) de Cantoras Negras. Lançado neste mês de outubro, como resultado de um curioso trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor entre 2006 e 2009 para um trabalho de pós-graduação da USP, o livro traz à tona - através de relatos orais de 13 cantoras negras brasileiras - mágoas, devoções e crenças de excelentes intérpretes que desafiaram lei extra-oficial do mercado fonográfico que confina solistas negras aos guetos do samba, do funk ou de qualquer outro ritmo enquadrado no rótulo "negro". Poucas cantoras, como a divina Elizeth Cardoso (1920 - 1990), conseguiram construir carreira regular fora desse enquadramento pautado por um racismo disfarçado. Saudada como referência pioneira pela maioria das entrevistadas, Alaíde Costa foi outra solista que, em pleno reinado branco da Bossa Nova, se impôs e pagou alto preço por isso. "Quando eu comecei a cantar (...), havia uma certa discriminação em relação à minha postura musical. Todos diziam: 'É... Ela canta bem, mas canta difícil e escolhe músicas difíceis'. Difícil foi lidar com isso. Difícil foi vencer essa barreira", pondera Alaíde, no último dos 13 depoimentos reunidos no livro, encerrado com brilhante texto em que o autor analisa as histórias colhidas sob perspectiva acadêmica e ressalta que o piano é o símbolo do status quase sempre negado a essas cantoras idealistas que recusaram ficar na cozinha da música brasileira. Mulheres que não jogaram o jogo do masculino meio fonográfico!!
Prefaciado por Cida Moreira com texto sensível em que a cantora expressa admiração pelas colegas negras, o livro é interessante porque são profundos alguns balanços pessoais feitos pelas treze solistas dissonantes, nascidas num país mulato em que as maiores estrelas da música são estranhamente brancas até no Estado mais negro do Brasil (a Bahia festiva de Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Claudia Leitte). Projetada em 1988 no espetáculo Emoções Baratas, dirigido por José Possi Neto em São Paulo (SP), Adyel Silva abre a mente e o coração para contar sua história com a convicção de que o Brasil é, sim, um país racista. "Não quero ser magoada. Não quero ser raivosa. Não quero ser revoltada. Não quero nada disso... Tenho que começar a criar mecanismos de defesa para não criar um câncer dentro de mim. Perder espaço para uma pessoa que tem mais qualidade que você é bacana. Mas perder para alguém que não tem essa qualidade -mas tem a pele aceita, a cor do olho aceita, o tipo de cabelo aceito - é ruim. É muito ruim", relata Adyel, em tom de desabafo. Seu relato é forte!!
Na sequência, Leila Maria também destila mágoas justificadas pela falta de oportunidade, fruto do que ela entende como resistência velada por causa de seu orgulho negro. "... Tenho medo de que as pessoas não entendam o que estou dizendo e não apenas me tomem como preconceituosa, mas achem que estou usando isso como um recurso para justificar porque não acontecem mais coisas na minha carreira. Talvez enxerguem como um tipo de dor de cotovelo... Então, não dá. Não falo sobre isso com ninguém, porque as pessoas não assumem nem o preconceito geral - imagine, então, o especificamente aplicado dentro da área musical", pondera Leila, decepcionada pelo fato de seu segundo álbum - Off Key (2004) - não a ter (e)levado a patamar mais alto.
Menos ressentida, Virgínia Rosa - que começou carreira como vocalista de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor negro que nunca fez a música que esperavam dele - dá depoimento mais leve em que, sem negar o preconceito, exalta a força transformadora da raça negra. Já Misty - outra voz dissonante projetada no espetáculo Emoções Baratas - rememora sua trajetória obstinada com o sonho de ainda gravar seu primeiro CD, Bessie in Bossa, com abordagem particular do repertório da cantora norte-americana Bessie Smith (1894 - 1937), pioneira do blues. Sobrinha de Dolores Duran (1930 - 1954), Izzy Gordon exala orgulho negro, apreendido com o pai. "Na música, a negritude não é nada menos do que um dom", resume, com a mesma positividade detectada nos depoimentos de Graça Cunha e Arícia Mess. Na sequência, Ivete Souza retoma o discurso mais engajado e calejado pelos preconceitos sofridos ao longo da carreira - "Sou muito cobrada por ser negra e não cantar música negra. Já ouvi gente dizendo que eu canto essas canções para fugir das minha raízes! Mas não tem nada a ver com isso... Tem a ver com a escolha que eu fiz, com o que aprendi..." - enquanto Eliana Pittman fica na superfície, optando por rememorar momentos áureos da carreira (nos anos 70) e a projeção recente no musical 7, da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho. Já o relato desencanado de Zezé Motta - cantora e atriz desde a década de 70, mas hoje mais atriz do que cantora - tem seu ponto nervoso quando a artista lembra a pressão que sofreu da gravadora Warner Music para gravar sambas em seu segundo disco, Negritude (1979), já que o primeiro, Zezé Motta (1978), não obtivera o resultado comercial esperado diante da exposição de Zezé como atriz no filme Xica da Silva (1976). "Esperneei, mas no disco Negritude topei gravar alguns sambas. Mesmo assim, sempre rejeitei o rótulo de sambista - não porque tivesse algo contra o samba, mas porque sabia que a gravadora queria que eu gravasse samba por ser negra. Eu achava isso, vamos dizer, meio estranho. Parecia uma ditadura com o artista negro", lembra Zezé, superior.
Com sua crença espiritualista, Rosa Maria Colyn dilui os ressentimentos causados pelo preconceito racial, sofrido pela cantora fora e dentro do meio musical. "Ao longo da minha vida, recebi muitos elogios. Dizem que sou uma cantora maravilhosa, mas as oportunidades que tive como cantora não refletem isso. Se a escolha era entre uma negra que cantava bem e uma branca que era bonita, mas não cantava nada, a preferência era dela", remói Rosa Maria, hoje dividida entre as funções de cantora e atriz de novelas. Na sequência, Áurea Martins recorda o boicote que afirma ter sofrido pela diretoria da RCA de 1972 - quando gravou seu primeiro LP - e manifesta seu orgulho pelo CD Até Sangrar (2008) enquanto sonha com uma música brasileira sem guetos."...Fiquei numa situação difícil. O branco não me aceita por ser negra e o negro não me aceita porque diz que canto coisas elitistas, que estou no meio dos brancos... Assim fiz meu mundo: o bloco do eu sozinho", se situa Áurea, sem deixar de exaltar o pioneirismo da antecessora Alaíde Costa, que deixa a habitual discrição de lado para relatar detalhes da infância sofrida no derradeiro e emblemático depoimento deste livro que descortina os bastidores do velado preconceito racial que limita essas vozes dissonantes que - com doses maiores ou menores de felicidade e mágoa - ousam desafinar o coro dos contentes no mundo musical.
Título: Solistas Dissonantes
- História (Oral) de Cantoras Negras
Autor: Ricardo Santhiago
Editora: Letra e Voz
Cotação: * * * *
"Posso até cantar um samba e canto mesmo - mas quando eu quiser cantar, não porque querem que eu cante", situa Leila Maria em sentença lapidar do depoimento para o jornalista e historiador Ricardo Santhiago, autor do ótimo livro Solistas Dissonantes - História (Oral) de Cantoras Negras. Lançado neste mês de outubro, como resultado de um curioso trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor entre 2006 e 2009 para um trabalho de pós-graduação da USP, o livro traz à tona - através de relatos orais de 13 cantoras negras brasileiras - mágoas, devoções e crenças de excelentes intérpretes que desafiaram lei extra-oficial do mercado fonográfico que confina solistas negras aos guetos do samba, do funk ou de qualquer outro ritmo enquadrado no rótulo "negro". Poucas cantoras, como a divina Elizeth Cardoso (1920 - 1990), conseguiram construir carreira regular fora desse enquadramento pautado por um racismo disfarçado. Saudada como referência pioneira pela maioria das entrevistadas, Alaíde Costa foi outra solista que, em pleno reinado branco da Bossa Nova, se impôs e pagou alto preço por isso. "Quando eu comecei a cantar (...), havia uma certa discriminação em relação à minha postura musical. Todos diziam: 'É... Ela canta bem, mas canta difícil e escolhe músicas difíceis'. Difícil foi lidar com isso. Difícil foi vencer essa barreira", pondera Alaíde, no último dos 13 depoimentos reunidos no livro, encerrado com brilhante texto em que o autor analisa as histórias colhidas sob perspectiva acadêmica e ressalta que o piano é o símbolo do status quase sempre negado a essas cantoras idealistas que recusaram ficar na cozinha da música brasileira. Mulheres que não jogaram o jogo do masculino meio fonográfico!!
Prefaciado por Cida Moreira com texto sensível em que a cantora expressa admiração pelas colegas negras, o livro é interessante porque são profundos alguns balanços pessoais feitos pelas treze solistas dissonantes, nascidas num país mulato em que as maiores estrelas da música são estranhamente brancas até no Estado mais negro do Brasil (a Bahia festiva de Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Claudia Leitte). Projetada em 1988 no espetáculo Emoções Baratas, dirigido por José Possi Neto em São Paulo (SP), Adyel Silva abre a mente e o coração para contar sua história com a convicção de que o Brasil é, sim, um país racista. "Não quero ser magoada. Não quero ser raivosa. Não quero ser revoltada. Não quero nada disso... Tenho que começar a criar mecanismos de defesa para não criar um câncer dentro de mim. Perder espaço para uma pessoa que tem mais qualidade que você é bacana. Mas perder para alguém que não tem essa qualidade -mas tem a pele aceita, a cor do olho aceita, o tipo de cabelo aceito - é ruim. É muito ruim", relata Adyel, em tom de desabafo. Seu relato é forte!!
Na sequência, Leila Maria também destila mágoas justificadas pela falta de oportunidade, fruto do que ela entende como resistência velada por causa de seu orgulho negro. "... Tenho medo de que as pessoas não entendam o que estou dizendo e não apenas me tomem como preconceituosa, mas achem que estou usando isso como um recurso para justificar porque não acontecem mais coisas na minha carreira. Talvez enxerguem como um tipo de dor de cotovelo... Então, não dá. Não falo sobre isso com ninguém, porque as pessoas não assumem nem o preconceito geral - imagine, então, o especificamente aplicado dentro da área musical", pondera Leila, decepcionada pelo fato de seu segundo álbum - Off Key (2004) - não a ter (e)levado a patamar mais alto.
Menos ressentida, Virgínia Rosa - que começou carreira como vocalista de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor negro que nunca fez a música que esperavam dele - dá depoimento mais leve em que, sem negar o preconceito, exalta a força transformadora da raça negra. Já Misty - outra voz dissonante projetada no espetáculo Emoções Baratas - rememora sua trajetória obstinada com o sonho de ainda gravar seu primeiro CD, Bessie in Bossa, com abordagem particular do repertório da cantora norte-americana Bessie Smith (1894 - 1937), pioneira do blues. Sobrinha de Dolores Duran (1930 - 1954), Izzy Gordon exala orgulho negro, apreendido com o pai. "Na música, a negritude não é nada menos do que um dom", resume, com a mesma positividade detectada nos depoimentos de Graça Cunha e Arícia Mess. Na sequência, Ivete Souza retoma o discurso mais engajado e calejado pelos preconceitos sofridos ao longo da carreira - "Sou muito cobrada por ser negra e não cantar música negra. Já ouvi gente dizendo que eu canto essas canções para fugir das minha raízes! Mas não tem nada a ver com isso... Tem a ver com a escolha que eu fiz, com o que aprendi..." - enquanto Eliana Pittman fica na superfície, optando por rememorar momentos áureos da carreira (nos anos 70) e a projeção recente no musical 7, da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho. Já o relato desencanado de Zezé Motta - cantora e atriz desde a década de 70, mas hoje mais atriz do que cantora - tem seu ponto nervoso quando a artista lembra a pressão que sofreu da gravadora Warner Music para gravar sambas em seu segundo disco, Negritude (1979), já que o primeiro, Zezé Motta (1978), não obtivera o resultado comercial esperado diante da exposição de Zezé como atriz no filme Xica da Silva (1976). "Esperneei, mas no disco Negritude topei gravar alguns sambas. Mesmo assim, sempre rejeitei o rótulo de sambista - não porque tivesse algo contra o samba, mas porque sabia que a gravadora queria que eu gravasse samba por ser negra. Eu achava isso, vamos dizer, meio estranho. Parecia uma ditadura com o artista negro", lembra Zezé, superior.
Com sua crença espiritualista, Rosa Maria Colyn dilui os ressentimentos causados pelo preconceito racial, sofrido pela cantora fora e dentro do meio musical. "Ao longo da minha vida, recebi muitos elogios. Dizem que sou uma cantora maravilhosa, mas as oportunidades que tive como cantora não refletem isso. Se a escolha era entre uma negra que cantava bem e uma branca que era bonita, mas não cantava nada, a preferência era dela", remói Rosa Maria, hoje dividida entre as funções de cantora e atriz de novelas. Na sequência, Áurea Martins recorda o boicote que afirma ter sofrido pela diretoria da RCA de 1972 - quando gravou seu primeiro LP - e manifesta seu orgulho pelo CD Até Sangrar (2008) enquanto sonha com uma música brasileira sem guetos."...Fiquei numa situação difícil. O branco não me aceita por ser negra e o negro não me aceita porque diz que canto coisas elitistas, que estou no meio dos brancos... Assim fiz meu mundo: o bloco do eu sozinho", se situa Áurea, sem deixar de exaltar o pioneirismo da antecessora Alaíde Costa, que deixa a habitual discrição de lado para relatar detalhes da infância sofrida no derradeiro e emblemático depoimento deste livro que descortina os bastidores do velado preconceito racial que limita essas vozes dissonantes que - com doses maiores ou menores de felicidade e mágoa - ousam desafinar o coro dos contentes no mundo musical.
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"Posso até cantar um samba e canto mesmo - mas quando eu quiser cantar, não porque querem que eu cante", situa Leila Maria em sentença lapidar do depoimento para o jornalista e historiador Ricardo Santhiago, autor do ótimo livro Solistas Dissonantes - História (Oral) de Cantoras Negras. Lançado neste mês de outubro, como resultado de um curioso trabalho de pesquisa desenvolvido pelo autor entre 2006 e 2009 para um trabalho de pós-graduação da USP, o livro traz à tona - através de relatos orais de 13 cantoras negras brasileiras - mágoas, devoções e crenças de excelentes intérpretes que desafiaram lei extra-oficial do mercado fonográfico que confina solistas negras aos guetos do samba, do funk ou de qualquer outro ritmo enquadrado no rótulo "negro". Poucas cantoras, como a divina Elizeth Cardoso (1920 - 1990), conseguiram construir carreira regular fora desse enquadramento pautado por um racismo disfarçado. Saudada como referência pioneira pela maioria das entrevistas, Alaíde Costa foi outra solista que, em pleno reinado branco da Bossa Nova, se impôs e pagou alto preço por isso. "Quando eu comecei a cantar (...), havia uma certa discriminação em relação à minha postura musical. Todos diziam: 'É... Ela canta bem, mas canta difícil e escolhe músicas difíceis'. Difícil foi lidar com isso. Difícil foi vencer essa barreira", pondera Alaíde, no último dos 13 depoimentos reunidos no livro, encerrado com brilhante texto em que o autor analisa as histórias colhidas sob perspectiva acadêmica e ressalta que o piano é o símbolo do status quase sempre negado a essas cantoras idealistas que recusaram ficar na cozinha da música brasileira. 10!
Prefaciado por Cida Moreira com texto sensível em que a cantora expressa admiração pelas colegas negras, o livro é interessante porque são profundos alguns balanços pessoais feitos pelas treze solistas dissonantes, nascidas num país mulato em que as maiores estrelas da música são estranhamente brancas até no Estado mais negro do Brasil (a Bahia festiva de Daniela Mercury, Ivete Sangalo e Claudia Leitte). Projetada em 1988 no espetáculo Emoções Baratas, dirigido por José Possi Neto em São Paulo (SP), Adyel Silva abre a mente e o coração para contar sua história com a convicção de que o Brasil é, sim, um país racista. "Não quero ser magoada. Não quero ser raivosa. Não quero ser revoltada. Não quero nada disso... Tenho que começar a criar mecanismos de defesa para não criar um câncer dentro de mim. Perder espaço para uma pessoa que tem mais qualidade que você é bacana. Mas perder para alguém que não tem essa qualidade -mas tem a pele aceita, a cor do olho aceita, o tipo de cabelo aceito - é ruim. É muito ruim", relata Adyel, em tom de desabafo. Seu relato é forte!!
Na sequência, Leila Maria também destila mágoas justificadas pela falta de oportunidade, fruto do que ela entende como resistência velada por causa de seu orgulho negro. "... Tenho medo de que as pessoas não entendam o que estou dizendo e não apenas me tomem como preconceituosa, mas achem que estou usando isso como um recurso para justificar porque não acontecem mais coisas na minha carreira. Talvez enxerguem como um tipo de dor de cotovelo... Então, não dá. Não falo sobre isso com ninguém, porque as pessoas não assumem nem o preconceito geral - imagine, então, o especificamente aplicado dentro da área musical", pondera Leila, decepcionada pelo fato de seu segundo álbum - Off Key (2004) - não a ter (e)levado a patamar mais alto.
Menos ressentida, Virgínia Rosa - que começou carreira como vocalista de Itamar Assumpção (1949 - 2003), compositor negro que nunca fez a música que esperavam dele - dá depoimento mais leve em que, sem negar o preconceito, exalta a força transformadora da raça negra. Já Misty - outra voz dissonante projetada no espetáculo Emoções Baratas - rememora sua trajetória obstinada com o sonho de ainda gravar seu primeiro CD, Bessie in Bossa, com abordagem particular do repertório da cantora norte-americana Bessie Smith (1894 - 1937), pioneira do blues. Sobrinha de Dolores Duran (1930 - 1954), Izzy Gordon exala orgulho negro, apreendido com o pai. "Na música, a negritude não é nada menos do que um dom", resume, com a mesma positividade detectada nos depoimentos de Graça Cunha e Arícia Mess. Na sequência, Ivete Souza retoma o discurso mais engajado e calejado pelos preconceitos sofridos ao longo da carreira - "Sou muito cobrada por ser negra e não cantar música negra. Já ouvi gente dizendo que eu canto essas canções para fugir das minha raízes! Mas não tem nada a ver com isso... Tem a ver com a escolha que eu fiz, com o que aprendi..." - enquanto Eliana Pittman fica na superfície, optando por rememorar momentos áureos da carreira (nos anos 70) e a projeção recente no musical 7, da dupla Charles Möeller & Claudio Botelho. Já o relato desencanado de Zezé Motta - cantora e atriz desde a década de 70, mas hoje mais atriz do que cantora - tem seu ponto nervoso quando a artista lembra a pressão que sofreu da gravadora Warner Music para gravar sambas em seu segundo disco, Negritude (1979), já que o primeiro, Zezé Motta (1978), não obtivera o resultado comercial esperado diante da exposição de Zezé como atriz no filme Xica da Silva (1976). "Esperneei, mas no disco Negritude topei gravar alguns sambas. Mesmo assim, sempre rejeitei o rótulo de sambista - não porque tivesse algo contra o samba, mas porque sabia que a gravadora queria que eu gravasse samba por ser negra. Eu achava isso, vamos dizer, meio estranho. Parecia uma ditadura com o artista negro", lembra Zezé, superior.
Com sua crença espiritualista, Rosa Maria Colyn dilui os ressentimentos causados pelo preconceito racial, sofrido pela cantora fora e dentro do meio musical. "Ao longo da minha vida, recebi muitos elogios. Dizem que sou uma cantora maravilhosa, mas as oportunidades que tive como cantora não refletem isso. Se a escolha era entre uma negra que cantava bem e uma branca que era bonita, mas não cantava nada, a preferência era dela", remói Rosa Maria, hoje dividida entre as funções de cantora e atriz de novelas. Na sequência, Áurea Martins recorda o boicote que afirma ter sofrido pela diretoria da RCA de 1972 - quando gravou seu primeiro LP - e manifesta seu orgulho pelo CD Até Sangrar (2008) enquanto sonha com uma música brasileira sem guetos."...Fiquei numa situação difícil. O branco não me aceita por ser negra e o negro não me aceita porque diz que canto coisas elitistas, que estou no meio dos brancos... Assim fiz meu mundo: o bloco do eu sozinho", se situa Áurea, sem deixar de exaltar o pioneirismo da antecessora Alaíde Costa, que deixa a habitual discrição de lado para relatar detalhes da infância sofrida no derradeiro e emblemático depoimento deste livro que descortina os bastidores do velado preconceito racial que limita essas vozes dissonantes que - com doses maiores ou menores de felicidade e mágoa - ousam desafinar o coro dos contentes no mundo musical.
Interessante a abordagem. E já que você falou em Bahia: Margareth Menezes é um exemplo disso; pioneira do dito 'axé', nunca alcançou - de fato - o sucesso no país. E olha que voz não lhe falta, muito menos ecletismo. Enfim, coisas do Brasil. Infelizmente.
Leila Maria, uma grande voz sem sombra de dúvida, grava um disco cantando bossa nova em inglês, depois grava outro com músicas de temática gay e quer fazer sucesso nacional. Ora, se ela mesma escolhe caminhos herméticos e/ou mais difíceis não pode se queixar do resultado. Não conheço o trabalho de todas as cantoras citadas, mas será que eles não fizeram o sucesso possível a cada um?
Complicado falar sobre este assunto, pela sua complexidade, melhor ficar com os depoimentos, porque o sentimento dessas cantoras é real, independente dos fatores que fizeram suas carreiras deslancharem ou não. Sobre a Zezé Motta, seus discos iniciais são fantásticos, se vendiam pouco paciêcia, cantores de MPB raramente venderam muito. Gosto das posições políticas da Zezé, apenas não sei até que ponto uma certa radicalidade impedisse que a nossa melhor atriz negra, assim como a marília pera é nossa melhor atrioz branca, tenha a deixado fora da roda, por mais tempo que ela devesse ficar.
Querido Mauro e leitores, que interessante este seu blog. Parabéns.
Conheço Ricardo Santhiago há cerca de 7 anos. Um jovem lindo, talentoso, sensível e muito atento. Ele já fez alguns releases meus e seu texto é encantador . Acompanhei o processo de feitura deste livro, mas não imaginava que o resultado seria tão arrebatador. Em primeiro lugar, pela escolha das artistas, todas de personalidade e com cara própria,que jamais se renderam ao banal, mas pelo cuidado, elegância, beleza e sofisticação, que faz jûs a estas ladies singers. Mais que merecida a referência e reverência à nossa Alaide Costa, grande dama da canção brasileira, exemplo de qualidade e coerência, com quem tenho o privilégio de conviver e tive de dividir palco e gravação. Fica ainda a dica de divulgar um email de contato ou um site para que as pessoas possam adquirir este livro, de projeto gráfico esplêndido, cheio de fotos lindas (muitas do grande Marco Aurélio Olímpio), que acaba sendo um presente incrível para quem tem bom gosto. Um grande beijo ao Ricardo, menino adorável, a você e aos seus leitores.
Carlos Navas
cantor/SP
Impressão minha, ou faltou o outro lado da moeda, o relato de cantoras negras que, sim, chegaram ao estrelato, como Alcione, Sandra de Sá e Margareth Menezes? Seria interessante tb comprar com a opinião dessas, que dentro de estilos ditos "negros" (samba, soul-funk, axé) fizeram e fazem sucesso. Será que enxergam as coisas pelo mesmo viés?
Segundo eu li, o livro apresenta cantoras negras "não-sambistas", exatamente para tratar do lado da moeda que raro nos chega. O lado do sucesso nós mais conhecemos, ou me engano?
Nenhum trabalho de pesquisa pode dar conta, com profundidade, de todos os vieses possíveis.
Falando em Bahia... Claudia Leitte não é baiana, mas nascida no estado do Rio de Janeiro.
Não importa em que gênero, não importa em que lugar, o que seria da arte de cantar não fossem as cantoras negras?
SOU MAIS BRANCO QUE SIVUCA - FUJO DE SOL E CALOR QUE NEM O DIABO DA CRUZ - MAS O QUE SERIA DA MÚSICA MUNDIAL SEM AS VOZES DE NEGRAS E NEGROS ?
Mas o assunto, realmente, como qualquer outro que aborde etnias, crenças e política é muito mais complexo do que caberia em um livro apenas. Sera necessário uma biblioteca. Depende do momento, da moda, do que a mídia suas vítimas escolheram para certa época.
SÓ UMA COISA É FATO: A MÚSICA NEGRA DE RAIZ SE NÃO FOI MORTA PELOS CHICOTES NÃO SERÁ POR MAIS NADA E ACHAR QUE NEGROS E NEGRAS DEVEM SE LIMITAR A ESTA MÚSICA DE RAIZ É PERDA DE TALENTO PARA TODOS.
Essas cantoras colocadas aqui conseguiram o que deu para conseguir. Que abordagem preconceituosa. Imagina se elas não deram certo porque são negras? Não é simples assim. Existem muitos outros fatores. Ser negra é apenas um fator. Não vou falar porque sou uma mulher educada. É simplificar demais. Colocar a culpa na cor é muito perigoso. Depois a Alaíde Costa, Rosa Maria Colyn e Zezé Motta são estrelas. Existe um reconhecimento por parte da crítica e de um público atento e fiel. Sempre gravam. A Zezé Motta dedicou seu tempo mais ao trabalho de atriz, é uma grande atriz. Não se dedicou ao canto. Não tem do que reclamar. A Rosa Maria Colyn chegou ao estrelato vendendo muito disco em inglês. Ficou popular no Brasil. Foi contradada de multinacional e tudo.Lembro da Rosa Maria recebendo um disco de ouro em um programa popular por grande vendagem de disco. Agora é mais atriz. A vida é assim. Mas todos sabem quem é Rosa Maria cantora e sua bela voz dando vida aos clássicos da música americana. A Alaíde Costa fez um caminho mais difícil com Bossa Nova. Até que ela fez um certo sucesso e é reconhecida. Só não ficou muito popular. Mas isso não tem nada a ver com a cor. Tem a ver com opção. Sou negra, sei que é mais difícil para nós as coisas. Mas na música e nas artes somos mais bem aceitos e temos grande espaço. Falam do Itamar Assumpção, mas se esquecem do Gilberto Gil. Itamar fez uma opção pela música maldita. Nunca pagou a OMB. Opção, não por ser negro. Olha nós na música: Jamelão, Jair Rodrigues, Simonal, Alcione, Margareth Menezes, Luciana Mello, jairzinho, Simoninha, Max de Castro, Chico César, Paula Lima, Virgínia Rogrigues, Ataulfo Alves, Cartola, Tim Maia, Lecy Brandão, Almir Guineto, Claudio zolli, Sandra de Sá, Jorge Aragão e muito mais gente. São dezenas de talentos negros na MPB. Sem falar que os grupos de pagode são todos de negros. Tem preconceito, mas quem é bom sempre chega lá... Quanta cantora branca de talento que também não chegou ao grande público. E as japonesas? O preconceito é maior ainda,em todas as áreas das artes. As coisas não passam por aí, somente, como quer sugerir esse livro. O livro aborda a área menos preconceituosa com os negros. Vc entra em um hospital e quantos médicos negros vc percebe trabalhando? Nunca tem médico negro. Eu nunca vi uma aeromoça negra. Eu nunca vi um piloto de avião negro. Nós não estamos em muitos lugares. Quem tem talento, brilha na música. Olha essa menina, Fabiana Cozza. Uma negra de talento. Vai longe...
Que todas as áreas recebam de braços abertos os negros como a música do Brasil.
Mauro,
Me interessei pelo livro, pela temática e presença dessas maravilhosas cantoras. Além do mais tem Alaíde Costa, a minha preferida de todas as preferidas.
Leio aqui, também, um comentário de Carlos Navas, excelente cantor que teve participação de Alaíde em um de seus belos trabalhos. Parabéns por seu talento e trabalho Navas.
Aldo/MG
ALAÍDE COSTA É TUDO!!!!!! MARAVILHOSA LALÁ, UM CHARME, UMA DELICADEZA NA VOZ E NA ATITUDE!!MARAVILHOSAAAAAAAAAAAAA!!!
Beijo Mauro, teu blog é 100.
Roseli
Capital - São Paulo
Já encomendei meu exemplar na Livraria Cultura. Adoro essas maravilhosas cantoras e tenho certeza que muita gente.
À leitora anônima das 22:26, o que está em questão na aboradagem do livro é o fato de, no Brasil, se associar cantora(e)s negros com o samba. Esta é sim uma forma de preconceito e as intérpretes citadas passaram por isso. Por suposto o autor não está ignorando sucessos de artistas negros, como os que você citou. Cito também Milton Nascimento, este nunca vinculado ao samba. O livro em questão faz o recorte de uma abordagem possível e legítima. Porém, antes de nossas conclusões é preciso dedicarmos à sua leitura.
Aldo/MG
Anônimo (a) das 22:26:
"As coisas não passam por aí, somente, como quer sugerir esse livro"
Você leu o livro? Por favor, me diga a página em que o livro o sugere.
Então,
O comentário anônimo acima, além de sugerir a falta da leitura do livro, que recomendo (já está no site da Livraria Cultura, como disseram); sugere ausência de uma percepção mais sensível.
Uma grande parte dos papéis da Zezé Motta e de outras atrizes negras foram de mulheres pobres, escravas ou mães-de-santo. Nos tempos do politicamente correto, o fato de uma protagonista negra na novela das oito ainda causar espanto nos dá o que pensar, não?
Num país com grande parte da população mulata ou negra, difícil achar que estamos restritos ao samba, ao black e congêneres por mero acaso. Foram citadas diversas pessoas - em sua maioria sambistas ou ligadas ao black. Gilberto Gil, Itamar e Chico César têm carreiras ligadas à canção. Mas são homens. Acho que este livro ainda nos coloca a questão do gênero como fator de exclusão.
Acho melhor ler, pra entender do que se trata.
caros leitores, li o texto em sua versão inicial e fiquei muito contente em vê-lo publicado, logo após a sua defesa, como texto acadêmico. Recomendo-o com ênfase! Como já disse, no livro, vozes e cores nada mais são que convenções provisórias.
Que bom que desde sempre houve exceções. Quem se lembra da musa da Bossa-Nova, a grande Nara Leão, dando às costas para um "movimento a princípio elitista e branco" e gravando Zé Keti em seu disco de estréia ?
A Musa da Igualdade isso sim.
Citaram Milton Nascimento como um exemplo de um negro que chegou ao ápice da MPB descolado dos esteriótipos. É vero. Mas cabe lembrar que sempre comentavam ou escreviam no pé da página o assunto FOI ADOTADO. Por quê ?
Precisa responder não, seria a justificativa para o desconforto ou estranheza com o baita talento.
Tô errado ?
Ps: Melodia sempre foi também da MPB "classuda", sem samba, sem reggae, sem soul music e por aí vai.
Isso é assunto para 100 teses de doutorado.
O anônimo lá em cima lembra bem que Rosa Maria Colyn fez muito sucesso, no Brasil, cantando em inglês. Chegou lá. E ponto. Não pode se sentir injustiçada. Deus foi bom com ela, "California Dreamin", ficou nas paradas de sucesso por vários meses. E outras músicas também... Tenho o LP. Minha secretária do lar tem uma fita cassete. Acredita Mauro? Rosa foi popular. O Brasil adora quem canta em inglês. E continua muito querida.
Sou professora de escola particular e de raça branca e até hoje me assusto com certas reações de crianças brancas ao verem os "pretinhos" (tristes palavras que toda hora tenho que "consertar") recebendo um elogio ou realizando algo que a princípio eles não puderam ou não quiseram realizar.
Senhores pais: a bola está com vocês. Não podemos fazer tudo e não estamos 24h ao lado de possíveis futuros preconceituosos.
A última frase horrorosa que me lembro foi: "Tia, por que ele estuda aqui, 'eles' têm que estudar em escola de pobre".
Que Deus nos ajude.
Eu acho que é apenas uma coincid~encia que mulheres negras não tenham, em grande parte, atingido o estrelato, pq se fosse caso de racimso, não teríamos, Mílton, Gil, Tim Maia, Djavan, melodia, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Ed Motta, Seu Jorge e outros tantos cantores negros fazendo sucesso no Brasil.
Mais preconceituosa, me parece, é a dicotomia samba X "música classuda", como se o samba não tivesse classe, quando, ao meu ver, o samba é pura classe e elegância suplantando todas as dificuldades.
Meus caros, quanta confusão! Ninguém aqui esta falando de sucesso, vendagem e etc. Sabem o que significa "dissonantes"? Elas são todas artistas dissonantes, que não fazem parte de um grupo específico, têm personalidade própria e sim, assumem as consequências de suas escolhas artísticas e pessoais, partilhadas no livro com quem o ler. O fato de não serem eminentemente sambistas torna a análise ainda mais interessante, pois, tradicionalmente, associa-se samba e negritude e nem sempre é assim que precisa ser. Por isso, a coerência da carreira de Alaíde, por exemplo, é tão importante. Li o livro. É um belo relato delas feito por elas. Por favor, queridos, aprendam a ouvir os cd´s resenhados e lerem os livros comentados antes de postarem comentários de tietagem gratuita (ou críticas a coisas tão pessoais). Congratulo Carlos Navas pelo seu depoimento, assinado. Assim como Aldo, eu o considero um dos maiores cantores e intérpretes brasileiros, ainda não reconhecido como merece (será que vai ser num país como o nosso?), mas que reflete muita sinceridade e tranquilidade no seu caminhar musical, que acompanho com imensa admiração. E seu dueto com a diva Alaide em "Canções e Momentos" é absolutamente impecável.
Parabéns ao Ricardo Santhiago. Abraços,
Rodolfo Cesar/ SP
"Mílton, Gil, Tim Maia, Djavan, melodia, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Ed Motta, Seu Jorge e outros tantos cantores negros fazendo sucesso no Brasil"
E as cantoras?
Uma das questões problematizadas pelo livro é justamente a presença da 'mulher' nestes terrenos ditos 'classudos'. E o anônimo novamente está errado quando fala em dicotomia. O livro do Santhiago não faz a relação coisa de classe x coisa sem classe - isso é licença poética sua, rs.
Apenas problematiza o fato dos negros - mais especificamente das mulheres negras - serem comumente associados a um determinado tipo de música 'negra e de raízes africanas', que seria o samba, o black, etc.
Notou a diferença? Isso nao é dizer que o samba é ruim, menor ou sem classe. É uma leitura sua, por certo equivocada.
Recomendo novamente a leitura do livro e que esses juízos rasos para depois...
Rodolfo Cesar, sei...
Alcione e Margareth Menezes Lany Andrade, embora tenham feito sucesso nunca foram musas. Aí está a grande diferença. Bethânia é poética, Gal é a fatal, Alcione tem grande voz. Ivete é a gostosa, Claudia Leite a fofa, Margareth Menezes tem grande presença de palco. Ainda hoje a presença dos negros no nosso meio artístico está condicionada a um talento iquestionável, e não apenas de grande talento se forma uma estrela. Citaram Gil, mas Gil sozinho não teria chegado aonde chegou.´ O Brasil é sim um país preconceituoso e mesmo quando consome a arte dos negros, faz isso como se estes estivessem prestando um serviço e não realizando sua arte.
"Uma das questões problematizadas pelo livro é justamente a presença da 'mulher' nestes terrenos ditos 'classudos'. E o anônimo novamente está errado quando fala em dicotomia. O livro do Santhiago não faz a relação coisa de classe x coisa sem classe - isso é licença poética sua, rs."
Acontece que não me refiro ao livro, mas a determinado comentário publicado aqui.
'Chororô, chororô, chororô
É muita água, é magoa, é jeito bobo de chorar
Chororô, chororô, chororô
É mágoa, é muita água, a gente pode se afogar'
ouvi a entrevista com o ricardo na cbn e corri prá net pra saber mais do livro. me deparei com seu belo blog.
acho que tem, sim, muito preconceito( os 'cara' ainda são muito ignorantes..) mas é bola prá frente e resistir sempre, não se deixar violentar nas suas raízes, suas convicções, não se vender. se querem é assim, se não paciência outros hão de querer, né? e alguém já disse "o problema do racismo é do racista, não meu".
eles querem ganhar dinheiro, não qualidade. daí as ivetes, claudias, xuxas...
salve a grande música negra!
Vi o livro na Livraria,achei muito bonito, realmente uma homenagem ao talento dessas grandes guerreiras cantoras negras que só enobrecem o Brasil.
Caro Mauro Ferreira,
Este seu espaço, tão democrático, é, realmente, muito importante para se discutir e divulgar a nossa cultura popular, com especial destaque, para a mui amada MPB.
Não li o livro, ainda, mas, só o fato, de seu autor Ricardo Santhiago, abrir espaço na literatura, para estas 13 mulheres, tão talentosas, corajosas, coerentes, e muito determinadas, já merecia antecipadamente, o nosso aplauso, e votos de muito sucesso para o seu trabalho.
Ao enquadrar, inteligentemente, estas cantoras, suas carreiras, e vozes, como dissonantes, o autor, já deixou, bem claro,
a sua intenção.
Ele, não poderia mesmo, compará-las, com alguns nomes estrelares e populares, citados acima, porque, as escolhidas por ele, para figurarem no livro, fugiram destes padrões; estas, não se renderam, ao pré-estabelecido pelas multinacionais do disco.
Sabemos, que, desde o tempo dos grandes auditórios de rádio, até, os dias atuais, que cantoras negras, para serem aceitas, e, bem sucedidas, e, venderem seus discos, aparecerem nas TVs, lotarem estádios, serem executadas nas rádios, etc. e etc., necessário seria, que cantassem o chamado "sambão";e, que, se vestissem,com certa "ousadia" e sensualidade, ou seja, comportando-se, da maneira, que se espera da Negra (ou mulata) tipo exportação, isto é,a gostosona do pedaço!
E, estas 13 mulheres maravilhosas, jamais, se prestaram a este triste papel.
Eu, particularmente, conheço, bem de perto, algumas delas, e, sei, de suas lutas pessoais, para se manterem fiéis, durante décadas, aos seus ideais de vida profissional.
Parabéns, ao autor do livro, pela pesquisa, pelo trabalho, pelo enfoque, pelo título e à todas as focalizadas o meu carinho, o meu respeito e a minha eterna admiração!
ET - Segue um beijo especial, para a minha amada diva Alaíde Costa, e outro, para a queridíssima e super talentosa Áurea Martins.
Atenciosamente,
Paulo Alberto Ventura
Olá, Mauro Ferreira
Saudações.
Hoje, as 16:00, na Modern Sound (Copacabana-RJ), estará, sendo lançado o livro em questão, com direito a show da ótima cantora Áurea Martins, e a presença de algumas depoentes, inclusive, da sensacional ALAÍDE COSTA!
Uma curiosidade: No comentário anterior, de 14 do corrente - 17:32este Paulo é o parceiro da Alaíde Costa, na música Tempo Calado ? Se for, aproveito, para dizer, que adoro esta canção!
Grato,
Samuel (RJ)
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