19 de outubro de 2009

Aos 70, Hime continua no tempo da inspiração

Resenha de CD
Título: O Tempo das
Palavras... Imagem
Artista: Francis Hime
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * * * 1/2

O tempo da inspiração parece não passar para Francis Hime. Aos 70 anos, festejados em 31 de agosto de 2009, o compositor retorna ao mercado fonográfico com lindo álbum duplo, O Tempo das Palavras... Imagem. Na realidade, trata-se de dois discos distintos, mas acoplados em edição dupla. O primeiro, O Tempo das Palavras, é grandioso disco de inéditas, em que sobressai aos ouvidos a fartura melódica que norteia a obra de Francis. Ouça uma bela canção de clima camerístico como O Amor Perdido - criada por Francis a partir de poema de Geraldo Carneiro - e comprove que, aos 70 anos, o compositor continua inspirado como nos tempos de juventude. O segundo CD, Imagem, mira o passado, mas tem valor especial na discografia de Francis por seu primeiro trabalho instrumental de piano solo. E o pianista de mão cheia se volta para os temas que compôs para trilhas sonoras de filmes, em outra amostra de que a música de Francis Hime é mesmo coisa de cinema. Mas o que impressiona no confronto de um álbum com o outro é que a produção do presente não fica aquém da produção do passado - como se percebe, por exemplo, no cancioneiro de Chico Buarque, parceiro importante e já ausente da obra de Francis. Encerrado pela valsa-rancho que lhe dá nome, O Tempo das Palavras ostenta a citada fartura melódica - e também uma exuberância instrumental - já na primeira faixa, Adrenalina, esfuziante samba assinado por Francis com Joyce Moreno, parceira também da ligeiramente menos inspirada Rádio Cabeça. Em Maré, bela valsa letrada por Olivia Hime, a exuberância vem também do canto sublime de Mônica Salmaso, convidada da faixa adornada pela harpa de Cristina Braga (luxo bisado em Eterno Retorno, outra parceria de Francis com Geraldo Carneiro). De volta ao samba, Pra Baden e Vinicius honra o gênero e a dupla evocada já no título. Trata-se de parceria de Francis com Paulo César Pinheiro. E por falar em amigos novos e antigos, Francis Hime abre o leque de parceiros para agregar Moska, letrista de Há Controvérsias, faixa que leva o disco a transitar por uma poética menos lírica e mais contemporânea, embora esta não seja necessariamente superior àquela. Por fim, vale ressaltar que Francis Hime assina a direção musical e os arranjos que sempre valorizam as músicas. Com perfeito entendimento do que pede sua obra, o compositor se dá ao luxo de regravar dois temas em Tempo das Palavras. Um, Existe um Céu, é de lavra bem recente e já ganhou registro mais sedutor na voz aveludada de Simone. O outro, O Sim pelo Não, parceria bissexta do compositor com Edu Lobo, é (boa) coisa da antiga, embora o tempo seja conceito relativo neste excelente álbum de Francis Hime, compositor para o qual - vale repetir - os anos de inspiração áurea parecem não passar. Um dos CDs do ano.

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

O tempo da inspiração parece não passar para Francis Hime. Aos 70 anos, festejados em 31 de agosto de 2009, o compositor retorna ao mercado fonográfico com lindo álbum duplo, O Tempo das Palavras... Imagem. Na realidade, trata-se de dois discos distintos, mas acoplados em edição dupla. O primeiro, O Tempo das Palavras, é grandioso disco de inéditas, em que sobressai aos ouvidos a fartura melódica que norteia a obra de Francis. Ouça uma bela canção de clima camerístico como O Amor Perdido - criada por Francis a partir de poema de Geraldo Carneiro - e comprove que, aos 70 anos, o compositor continua inspirado como nos tempos de juventude. O segundo CD, Imagem, mira o passado, mas tem valor especial na discografia de Francis por seu primeiro trabalho instrumental de piano solo. E o pianista de mão cheia se volta para os temas que compôs para trilhas sonoras de filmes, em outra amostra de que a música de Francis Hime é mesmo coisa de cinema. Mas o que impressiona no confronto de um álbum com o outro é que a produção do presente não fica aquém da produção do passado - como se percebe, por exemplo, no cancioneiro de Chico Buarque, parceiro importante e já ausente da obra de Francis. Encerrado pela valsa-rancho que lhe dá nome, O Tempo das Palavras ostenta a citada fartura melódica - e também uma exuberância instrumental - já na primeira faixa, Adrenalina, esfuziante samba assinado por Francis com Joyce Moreno, parceira também da ligeiramente menos inspirada Rádio Cabeça. Em Maré, bela valsa letrada por Olivia Hime, a exuberância vem também do canto sublime de Mônica Salmaso, convidada da faixa adornada pela harpa de Cristina Braga (luxo bisado em Eterno Retorno, outra parceria de Francis com Geraldo Carneiro). De volta ao samba, Pra Baden e Vinicius honra o gênero e a dupla evocada já no título. Trata-se de parceria de Francis com Paulo César Pinheiro. E por falar em amigos novos e antigos, Francis Hime abre o leque de parceiros para agregar Moska, letrista de Há Controvérsias, faixa que leva o disco a transitar por uma poética menos lírica e mais contemporânea, embora esta não seja necessariamente superior àquela. Por fim, vale ressaltar que Francis Hime assina a direção musical e os arranjos que sempre valorizam as músicas. Com perfeito entendimento do que pede sua obra, o compositor se dá ao luxo de regravar dois temas em Tempo das Palavras. Um, Existe um Céu, é de lavra recente e já ganhou registro mais sedutor na voz aveludada de Simone. Outro, O Sim pelo Não, parceria bissexta do compositor com Edu Lobo, é (boa) coisa da antiga, embora o tempo seja conceito relativo neste excelente álbum de Francis Hime, compositor para o qual - vale repetir - os anos de inspiração áurea parecem não passar. Um dos CDs do ano.

19 de outubro de 2009 às 10:00  
Anonymous Anônimo said...

Fracis Hime é luxo só. Adoro a versão de Simone para Existe um Céu. É linda.

19 de outubro de 2009 às 10:37  
Anonymous Anônimo said...

Francis Hime merece cada palavra boa que vc escreveu sobre ele.Ele é artista de primeira grandeza!!!

19 de outubro de 2009 às 14:11  
Anonymous Luc said...

Francis Hime toca muito na Rádio Nacional. Tem suas conexões, anda meio chapa branca. Mas isso é bom, porque a gente fica conhecendo as novidades. As 'antiguidades' já se sabe que são petits fours finíssimos.

Do conjunto da obra, fico com os arranjos para as parcerias com o Chico. Têm assinatura.

19 de outubro de 2009 às 15:49  
Anonymous Anônimo said...

Já afirmei tudo quanto podia de minha admiração descomedida pelo Francis no post que sinalizava o lançamento do álbum.Confesso que aguardava a crítica,ansiosa;não pelo conteúdo que aqui não se trata de trabalho que necessite deste ou de outros avais maiores,contudo estava ansiosa e confesso por ver o foco de um blog bem visitado como este se centrar neste novo trabalho lindo do Francis,especialmente neste momento tão importante de sua vida.
**Algumas notas pessoais:
O conceito do 'O Tempo das palavras' me pareceu mais fragmentado do que seu antecessor e coeso Arquitetura,até porque o tema deste se pretende mais subjetivo conquanto seja clara e inevitável a ligação estética entre ambos,haja vista o parceiro mais constante atualmente ser Geraldo Carneiro;algumas coisas me pareceram mesmo egressas do Arquitetura,o cuidado com a palavra é comum a ambos,muito embora o antecessor fosse mais melódico conceitualmente, a concepção deste álbum novo me propôs um exercício inteiramente diferente,me fez interagir de um modo pouco costumeiro com Francis ou seja através da palavra,a melodia como célula,a palavra como unidade,naturalmente modo oposto ao que costumo processar a estética de seu trabalho.As parcerias com a Joyce me pareceram querer bisar uma proposital contemporaneidade conceitual, ensaiada em coisas como ‘A Musa da TV’ esta dele com Geraldo,talvez até mesmo explorar uma leve pinçada de ‘vanguarda’,Radio Cabeça (concordo com o ligeiramente menos inspirada) por exemplo muito embora tratando-se de um calango poderia muito bem ser gravada por uma banda como Titãs(?) e nisto fica claro o peso determinante da PALAVRA neste álbum;Maré é linda,idem a já então conhecida Existe um Céu que é de uma riqueza poética que faz jus a sua beleza e sofisticação harmônica.No entanto o disco pra mim se torna maior ainda á partir da segunda parte,e sem hesitar digo que a minha maior pérola do álbum é a valsa rancho que encerra gloriosamente este projeto lindo,segunda valsa rancho dele (naturalmente refiro-me as gravadas) sendo a primeira letrada por Buarque - digo e atestando o potencial do Hime em criar belezas resistindo ao esmaecimento criativo,que tantos outros grandes de nossa musica sofrem:digo ser esta ainda mais bonita que aquela de 1973 num dos discos mais grandiosos da vida do Francis.
Dito tudo isto arremato derramando-me de amores pelo grande álbum instrumental,um presente ímpar que almejava á muito,um songbook do criador de trilhas inesquecíveis,premiadas;de beleza e sofisticação inquietantes,sempre merecendo por si só o retorno às privilegiadas obras cinematográficas que estas adornaram.Este disco de caráter visual é um retrato da soberania do Hime,coisas como a trilha de 'Lição de Amor' merecem capítulos á parte.Tudo isto concedido e revisitado num divino Steinway, surtindo num trabalho de sonoridade incomparável;um Hime seguro,tranquilo,preciso,
encantador.EXATO.Esqueço até de questionar porque tardou tanto a chegada deste (merecido) momento solo dele ao piano,mas de tempo ele entende,como poucos.
Por fim imersa nestas insólitas conjunções de passado e presente fico aqui embasbacada com a grandeza deste homem capaz de transcender à códigos de tempo,a quem eu admiro infinitamente e que cada vez que se lança em algo NOVO me assinala a inutilidade arrogante de uns meus equívocos OBSOLETOS,me atém quase oniricamente à MEMÓRIAS que não posso perder, e diz do modo como quero estar no meu FUTURO,quiçá com um terço de seu viço inesgotável.

EXCELENTE POST MAURO!
Novamente escuso-me
pelo tamanho de um meu texto.

19 de outubro de 2009 às 22:13  
Anonymous Anônimo said...

O disco de Vânia Bastos cantando Tom Jobim é um dos melhores dos últimos tempos. Claro que tendo Tom e Vânia facilita, mas será que seria o mesmo sem os arranjos e condução de orquestra do Maestro aí ?

20 de outubro de 2009 às 21:18  
Anonymous Anônimo said...

EXCELENTE COMENTÁRIO ANÔNIMO !

Nem deixou muito para dizer.

20 de outubro de 2009 às 21:25  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel Andrade disse..

Mas é sabido que Francis Hime sempre fez música. É do time de Chico Buarque. Bom melodista, tem canções fantásticas e não vive aparecendo em qualquer lugar.
Isso não é artista pra programa de auditório não. Sua música é luxuosa e estudada. Não é coisa de uma nota sói não. Esse cara nunca vai passar, sua música sempre ficará. Ele é nosso Pau-Brasil da MPB.

20 de outubro de 2009 às 23:42  
Anonymous Anônimo said...

Emanuel, ela é nossa Embarcação nos lagos, rios e mares de nossa MPB.

21 de outubro de 2009 às 20:16  
Anonymous Anônimo said...

Ela NÃO, perdão: ELE!
É que estou com a grande Beth na cabeça.

21 de outubro de 2009 às 20:32  

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