28 de fevereiro de 2009

Com maestria, Tiso orquestra o samba e o jazz

Resenha de CD
Título: Samba e Jazz
- Um Século de Música
Artista: Wagner Tiso
Gravadora: Trem Mineiro
Cotação: * * * *

Além de ambos descenderem da mesma negra e forte matriz africana, o samba e o jazz têm (sutis) parentescos harmônicos de raiz européia, evidenciados sobretudo pela Bossa Nova. No disco Samba e Jazz - Um Século de Música, editado pelo selo Trem Mineiro, Wagner Tiso enfatiza afinidades entre os dois gêneros, encerrando a trilogia de fusões iniciada em 1997 com Debussy e Fauré Encontram Milton e Tiso (1997) e continuada com Tom e Villa (2000). Com antecedência de oito anos, o subtítulo Um Século de Música se refere ao fato de tanto o samba como o jazz terem chegado ao disco no mesmo ano de 1917 no Rio de Janeiro (Pelo Telefone, tema de Donga e Mauro Almeida) e nos Estados Unidos (Tiger Rag, da Dixieland Jazz Band, uma big-band branca radicada em Chicago), respectivamente. Como é regra em álbuns de Tiso, Samba e Jazz seduz pela maestria com que o maestro e pianista orquestra o repertório, que alterna temas dos dois gêneros nas 12 faixas, originadas de um período amplo que vai dos anos 20 aos 90. A exuberância dos arranjos salta aos ouvidos em temas como o Samba do Grande Amor (Chico Buarque, 1983) - erroneamente grafado no encarte e na contracapa como Samba 'de um' Grande Amor. Aliás, a orquestração mais engenhosa é a do samba que abre o disco, Volta à Palhoça, de Sinhô (1888 - 1930). Raro em disco, o samba amaxixado de Sinhô é embalado com arranjo que evoca o suingue das big-bands, orquestras pioneiras que estavam em evidência no jazz na mesma década de 20 em que o também pioneiro compositor abriu caminho para o samba no Brasil - até sair precocemente de cena. Do lado de cá, Tiso dá tonalidades jazzísticas a sambas como Folhas Secas (Nelson Cavaquinho, 1973) e Quando o Samba Chama (Paulinho da Viola, 1996). Do lado de lá, o pianista - que aprendeu a cultuar o jazz nas antenadas esquinas mineiras - saúda mestres como o trompetista Miles Davis (1926 - 1991) e os também pianistas Bill Evans (1929 - 1980) e Count Basie (1904 - 1984). De Davis, Tiso revive Tune Up e Solar. De Evans, evoca as sutilezas harmônicas no medley que junta Smoke Gets in your Eyes, What Is There to Say? e Young and Foolish. De Basie, líder de orquestra suingante, a reverência é feita através de Shiny Stockings e April in Paris. Enfim, um grande CD - um dos melhores e mais arrojados da discografia de Wagner Tiso - que embaralha os ritmos e alarga fronteiras de dois gêneros que, em maior ou menor grau, norteiam este notável século de música.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Além de ambos descenderem da mesma negra e forte matriz africana, o samba e o jazz têm (sutis) parentescos harmônicos de raiz européia, evidenciados sobretudo pela Bossa Nova. No disco Samba e Jazz - Um Século de Música, editado pelo selo Trem Mineiro, Wagner Tiso enfatiza afinidades entre os dois gêneros, encerrando a trilogia de fusões iniciada em 1997 com Debussy e Fauré Encontram Milton e Tiso (1997) e continuada com Tom e Villa (2000). Com antecedência de oito anos, o subtítulo Um Século de Música se refere ao fato de tanto o samba como o jazz terem chegado ao disco no mesmo ano de 1917 no Rio de Janeiro (Pelo Telefone, tema de Donga e Mauro Almeida) e nos Estados Unidos (Tiger Rag, da Dixieland Jazz Band, uma big-band branca radicada em Chicago), respectivamente. Como é regra em álbuns de Tiso, Samba e Jazz seduz pela maestria com que o maestro e pianista orquestra o repertório, que alterna temas dos dois gêneros nas 12 faixas, originadas de um período amplo que vai dos anos 20 aos 90. A exuberância dos arranjos salta aos ouvidos em temas como o Samba do Grande Amor (Chico Buarque, 1983) - erroneamente grafado no encarte e na contracapa como Samba 'de um' Grande Amor. Aliás, a orquestração mais engenhosa é a do samba que abre o disco, Volta a Palhoça, de Sinhô (1888 - 1930). Inédito em disco, o samba amaxixado de Sinhô é embalado com arranjo que evoca o suingue das big-bands, orquestras pioneiras que estavam em evidência no jazz na mesma década de 20 em que o também pioneiro compositor abriu caminho para o samba no Brasil - até sair precocemente de cena. Do lado de cá, Tiso dá tonalidades jazzísticas a sambas como Folhas Secas (Nelson Cavaquinho, 1973) e Quando o Samba Chama (Paulinho da Viola, 1996). Do lado de lá, o pianista - que aprendeu a cultuar o jazz nas antenadas esquinas mineiras - saúda mestres como o trompetista Miles Davis (1926 - 1991) e os também pianistas Bill Evans (1929 - 1980) e Count Basie (1904 - 1984). De Davis, Tiso revive Tune Up e Solar. De Evans, evoca as sutilezas harmônicas no medley que junta Smoke Gets in your Eyes, What Is There to Say? e Young and Foolish. De Basie, líder de orquestra suingante, a reverência é feita através de Shiny Stockings e April in Paris. Enfim, um grande CD - um dos melhores e mais arrojados da discografia de Wagner Tiso - que embaralha os ritmos e alarga fronteiras de dois gêneros que, em maior ou menor grau, norteiam este notável século de música.

28 de fevereiro de 2009 às 15:26  
Anonymous Anônimo said...

Assino embaixo, Mauro. Poderia ser diferente ?

28 de fevereiro de 2009 às 16:01  
Anonymous Anônimo said...

Olá Mauro!
Visitei teu blog pela primeira vez; adorei! Pretendo acessar sempre.
Fntástico, parabéns!
Jhunio
roinuj@uai.com.br

1 de março de 2009 às 09:02  
Blogger Unknown said...

Volta À Palhoça não é inédita em disco! Saiu no CD RAROS & INÉDITOS - A MPB Do Passado No Presente, do SESC São Paulo, 022.433, nos seus 50 anos em 1996, interpretada por Zizi Possi, com arranjo e regência do próprio Tiso, gravado ao vivo em show realizado nos dias 24, 25, 26 e 27 de agosto de 1995, no Sesc Pompéia. Abração, Claudio Olivotto

2 de março de 2009 às 20:15  

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