7 de fevereiro de 2008

Mart'nália reproduz aula de samba de Martinho

Resenha de CD
Título: Aula de Samba
- A História do Brasil através do Samba-Enredo
Artista: Alcione, Chico Buarque, Dona Ivone Lara,
Emílio Santiago, Fernanda Abreu, Leci Brandão, Lenine,
Maria Rita, Moska, Simone, Toni Garrido e Zélia Duncan
Produção: Mart'nália
Gravadora: Biscoito Fino
Cotação: * * *

Um dos mestres do samba-enredo, Martinho da Vila o tornaria menos caudaloso e arrastado nos anos 60 sem descaracterizar o gênero, cujas tradições soube reverenciar ao gravar em 1980 o álbum Samba Enredo. Mart'nália aprendeu a lição em casa e a seguiu com fidelidade ao produzir o bom CD Aula de Samba, idealizado por seu irmão Martinho Filho. A boa idéia foi fazer um disco de caráter educativo com regravações inéditas de sambas-enredos que (re)contem em suas letras passagens da História do Brasil. Para tal, a filha de Martinho convocou time de intérpretes formado por Chico Buarque, Maria Rita, Moska, Simone e outros.

É difícil dissociar Aula de Samba do disco em que Martinho da Vila regravou 12 sambas-enredos históricos em todos os sentidos. Mesmo porque cinco dos onze sambas selecionados por Mart'nália estiveram no repertório do LP lançado por Martinho em 1980. Foi copiando a lição de seu pai que Mart'nália tirou do baú jóias como Benfeitores do Universo, o samba defendido em 1953 pela escola Cartolinhas de Caxias, uma das agremiações de Caxias (município da Baixada Fluminense, RJ) que deram origem à Grande Rio, hoje no Grupo Especial. Coube a Zélia Duncan gravar o obscuro samba.

Muito desanimado, Chico Buarque abre o disco com Exaltação a Tiradentes (Império Serrano, 1949), dando uma aula de como não se cantar samba-enredo. Faltou a Chico o entusiasmo que regeu as boas gravações de Leci Brandão (Dona Beja, a Feiticeira de Araxá - Salgueiro, 1968) e de Moska (Dia do Fico - Beija-Flor, 1962) para citar apenas dois exemplos de faixas mais empolgantes. Contudo, Chico não é o único culpado por sua aula ser bastante enfadonha. Mart'nália parece ter produzido o disco sem pressão... Até mesmo nomes que já gravaram sambas-enredos com animação soam sem a força habitual. Casos de Fernanda Abreu, que defende Os Sertões (Em Cima da Hora, 1976) - aliás, uma aula de como se fazer samba-enredo - e de Simone, intérprete de Aquarela Brasileira (Império Serrano, 1964), samba que está mais para uma aula de geografia...

Mestre dos sambas de enredos históricos, Silas de Oliveira (1916 - 1972) é não por acaso o compositor mais presente no repertório. Além de Aquarela Brasileira, Silas tem seu nome entre os autores de Heróis da Liberdade (Império Serrano, 1969) - um clássico do gênero revivido por Maria Rita - e de Os Cinco Bailes da História do Rio (Império Serrano, 1965), que reaparece na voz nobre da co-autora Ivone Lara (em dueto com um deslocado Toni Garrido).

Nem todos os compositores, entretanto, eram mestres como Silas. E o fato é que alguns sambas, embora sejam irretocáveis do ponto de vista melódico, esboçam versões idealizadas de passagens da História do Brasil. Exemplo é o retrato retocado de Getúlio Vargas (1882 - 1954) esboçado em O Grande Presidente (Mangueira, em 1956), samba de Padeirinho revivido na voz de Alcione. Outro é a visão simplista da abolição da escravidão apresentada em Sublime Pergaminho (Unidos de Lucas, 1968) pelo sempre afinado Emílio Santiago. No todo, o CD é oportuna aula de como fazer um samba-enredo que já não se faz mais. Basta (re)ouvir com Lenine Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade (Unidos de Vila Isabel, 1972), belo clássico de Martinho da Vila, para comprovar que Mart'nália nem precisou sair de casa para aprender a sua lição de samba-enredo...

12 Comments:

Anonymous Anônimo said...

História do Brasil se aprende lendo a 'História Geral da Civilização Brasileira'. Coleção organizada, aliás, pelo pai do mesmo Chico Buarque que levou bomba no ENEM do Mauro Ferreira.

E a Mart'nália - of all people - tem condição de ensinar História a alguém ? Tenham a santíssima paciência, desse jeito o Brasil não vai pra frente !

7 de fevereiro de 2008 às 16:26  
Anonymous Anônimo said...

Ô saudades ...

O Mauro diz " ... Mart'nália tirou do baú jóias como Benfeitores do Universo, o samba defendido em 1953 pela escola Cartolinhas de Caxias, uma das agremiações de Caxias (município da Baixada Fluminense, RJ) que deram origem à Grande Rio, hoje no Grupo Especial... "


Minha terra


Diogo Santos
Nascido e criado em Duque de Caxias e hoje morando em Balneario Camboriu - SC

7 de fevereiro de 2008 às 16:38  
Anonymous Anônimo said...

Não existe uma visão sobre a abolição, e sim várias, e a visão de Sublime Pergaminho é uma versão válida. Outros enredos contam outras histórias, também válidas.

É um samba lindo, gravado pela Nara, que não vacilava na escolha de repertório. Simplista, e fácil, é a crítica.

7 de fevereiro de 2008 às 17:10  
Blogger Jonatas Oliveira said...

Oi, Mauro!

Conheci seu blog por acaso e adorei! Gostaria de te convidar para uma entrevista sobre música, a ser publicada em meu blog...

Aguardo contato!!!

-jonatas

7 de fevereiro de 2008 às 17:10  
Blogger O blog said...

Adoro a Mart`nália. Será que esse cd já está nas lojas?

7 de fevereiro de 2008 às 17:31  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, o samba do Silas ,o Aquarela Brasileira, é tão bom que esqueceu das Minas Gerais um dos Estados mais importantes do Brasil. E tem outros sambinhas bem ruinzinhos nesse cd. Ficou faltando o " Samba do Crioulo Doido" do Sérgio Porto. Gostei das tuas tres estrelas não merecia mais.

7 de fevereiro de 2008 às 18:45  
Anonymous Anônimo said...

Dirce, bravos!

Que pena, Mauro. Considerando seu comentário, fiquei lamentando a falta de 'molho' em algumas interpretações. Samba-enredo à meia voz (e à meia-alma) é pura perda de tempo.

Como perda para ganhar tempo têm sido os tais sambas-enredo dos últimos muitos anos tanto no Rio como em SPaulo.

7 de fevereiro de 2008 às 21:59  
Anonymous Anônimo said...

Não entendo... não é possível Chico e Simone registrarem sambas dessa forma logo os dois que consagraram enormes pérolas, n dá para entender...

8 de fevereiro de 2008 às 20:20  
Anonymous Anônimo said...

Concordo com o sr.Jfs. Essa historia "dos bons velhos tempos" do samba enredo e comentada todos anos. Com toda razao, infelismente! Pouca gente vai concordar comigo, mas o cd do Dudu Nobre do ano passado, sobre o mesmo tema, nao foi tao ruin assim, apesar as instrumentaçoes duvidosas. A Zelia, a Fernanda ja demostraram que sabem cantar samba. O Moska ja tentou tambem, justamente no dvd e disco da Mart'n'alia (cadé seu projeito de samba, Paulinho, depois dessa critica, vai desistir de vez?). Talvez o Chico nao tenha a mesma animaçao do que na epoca da "Feijoada completa" e "Apesar de vocé", mas sabe cantar samba mesmo,..quando quiser.Essa é a questao. Mas sabemos que cantar samba e samba-enredo, nao é o mesmo exercicio.

9 de fevereiro de 2008 às 10:08  
Anonymous Anônimo said...

GRANDE MAURO, TODA INFORMAÇÃO DE FERNANDA ABREU É VÁLIDA, VOU AGORA MESMO COMPRAR O CD SÓ POR CAUSA DA FERNANDINHA QUE ESTÁ DEVENDO UM SHOW À LA MORRO DA URCA COMO NA ÉPOCA DE SLA RADICAL DANCE DISCOCLUB QUE CANTAVA CLÁSSICOS DA DISCO MUSIC, ALIÁS FERNANDA MANDA BEM EM VÁRIOS ESTILOS, TEM UM ESTILO PARTICULAR DE INTREPRETAR AS CANÇÕES E MANDA BEM.

9 de fevereiro de 2008 às 15:36  
Anonymous Anônimo said...

Por quê insistem em colocar a dona Ivone nessas roubadas? E por quê ela aceita participar?

10 de fevereiro de 2008 às 21:06  
Anonymous Anônimo said...

"AO ANÔNIMO DAS 9:06 AÍ DE CIMA"
A DONA IVONE LARA É IGUAL A NEUSA BORGES QUE DEPENDE DA GLÓRIA PEREZ PARA FAZER NOVELA E CONSEQUENTEMENTE, PAGAR SUAS CONTAS E COMPRAR COMIDA, DONA IVONE LARA É A MESMA COISA DEPENDE DE PROJETOS, TIPO: LOUCOS POR MÚSICA ONDE CANTOU COM BETHANIA, ANA CAROLINA E ALCIONE, A APOSENTADORIA DELA NÃO DEVE SER DAS MELHORES E HÁ TEMPOS NINGUÉM REGRAVA E NEM EXECUTA "ENREDO DO MEU SAMBA"

SÓ!

11 de fevereiro de 2008 às 17:51  

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