7 de setembro de 2010

'Ária' dá ar rarefeito ao canto do crooner Djavan

Resenha de CD
Título: Ária
Artista: Djavan
Gravadora: Luanda Records / Biscoito Fino
Cotação: * * * 1/2

Primeiro disco de Djavan como intérprete, Ária dá ar rarefeito ao canto habilidoso do artista, que se exercita como crooner com a maturidade que ainda não pautava sua voz nos anos 70, década em que Djavan gravou temas alheios para trilhas sonoras de novelas da TV Globo e cumpriu expediente noturno em boates do Rio de Janeiro (RJ) enquanto procurava sedimentar sua obra autoral no mercado fonográfico. Produzido e arranjado pelo próprio Djavan, Ária transita intencionalmente na contramão estilística dos bissextos registros emotivos em que Djavan se aventurou como intérprete quando já era compositor de forte personalidade autoral - notadamente Sorri (Charles Chaplin em versão de Braguinha) e Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá), grandes faixas de seu álbum Malásia (1996). Já na primeira faixa de Ária, Disfarça e Chora (Cartola e Dalmo Castello), salta aos ouvidos a ambiência cool do álbum. Munido apenas de sua voz e de seu violão, Djavan repagina o samba em tons sofisticados com a mesma rala dose de emoção que pauta o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo), extraído do cancioneiro folhetinesco de Ângela Maria, símbolo da influência materna na escolha afetiva das 12 músicas que formam o repertório de Ária. Entre o banal (Palco, sem o clima festivo deste clássico de Gilberto Gil) e o sublime (Brigas Nunca Mais, o samba de Tom & Vinicius retocado no compasso de valsa), o crooner Djavan brilha ao fazer sua sincopada Apoteose ao Samba (Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira), ao voar em céu de brigadeiro pela reconhecível rota melódica de Fly me to the Moon (Bart Howard), ao desvendar a beleza ainda oculta em Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso) e ao apresentar ao Brasil um (belo) tema espanhol mais contemporâneo, La Noche (Enrique Heredia Carbonell e Juan Jose Suarez Escobar), pinçado do repertório da cantora Montse Cortez. Em contrapartida, Djavan apenas bate ponto como crooner ao diluir a densidade da Valsa Brasileira (Chico Buarque e Edu Lobo) e ao fazer sua Oração ao Tempo (Caetano Veloso) com a percussão divina de Marcos Suzano. Entre mais acertos do que erros, o registro em scats de Treze de Dezembro (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) reitera o tom rarefeito de Ária, disco que confirma a rara habilidade de Djavan como crooner sem oferecer o que se espera do (esperado) primeiro disco de intérprete do compositor.

11 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Primeiro disco de Djavan como intérprete, Ária dá ar rarefeito ao canto habilidoso do artista, que se exercita como crooner com a maturidade que ainda não pautava sua voz nos anos 70, década em que Djavan gravou temas alheios para trilhas sonoras de novelas da TV Globo e cumpriu expediente noturno em boates do Rio de Janeiro (RJ) enquanto procurava sedimentar sua obra autoral no mercado fonográfico. Produzido e arranjado pelo próprio Djavan, Ária transita intencionalmente na contramão estilística dos bissextos registros emotivos em que Djavan se aventurou como intérprete quando já era compositor de forte personalidade autoral - notadamente Sorri (Charles Chaplin em versão de Braguinha) e Correnteza (Tom Jobim e Luiz Bonfá), grandes faixas de seu álbum Malásia (1996). Já na primeira faixa de Ária, Disfarça e Chora (Cartola e Dalmo Castello), salta aos ouvidos a ambiência cool do álbum. Munido apenas de sua voz e de seu violão, Djavan repagina o samba em tons sofisticados com a mesma rala dose de emoção que pauta o abolerado samba-canção Sabes Mentir (Othon Russo), extraído do cancioneiro folhetinesco de Ângela Maria, símbolo da influência materna na escolha afetiva das 12 músicas que formam o repertório de Ária. Entre o banal (Palco, sem o clima festivo deste clássico de Gilberto Gil) e o sublime (Brigas Nunca Mais, o samba de Tom & Vinicius retocado no compasso de valsa), o crooner Djavan brilha ao fazer sua sincopada Apoteose ao Samba (Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira), ao voar em céu de brigadeiro pela reconhecível rota melódica de Fly me to the Moon (Bart Howard), ao desvendar a beleza ainda oculta em Luz e Mistério (Beto Guedes e Caetano Veloso) e ao apresentar ao Brasil um belo tema espanhol mais contemporâneo, La Noche (Enrique Heredia Carbonell e Juan Jose Suarez Escobar), pinçado do repertório da cantora Montse Cortez. Em contrapartida, Djavan apenas bate ponto como crooner ao diluir a densidade da Valsa Brasileira (Chico Buarque e Edu Lobo) e ao fazer sua Oração ao Tempo (Caetano Veloso) com a percussão divina de Marcos Suzano. Entre mais acertos do que erros, o registro em scats de Treze de Dezembro (Luiz Gonzaga e Zé Dantas) reitera o tom rarefeito de Ária, disco que confirma a rara habilidade de Djavan como crooner sem oferecer o que se espera do (esperado) primeiro disco de intérprete do compositor.

7 de setembro de 2010 às 16:46  
Anonymous Lurian said...

Anos atrás, quando gravou Malásia, Djavan havia anunciado o desejo de gravar um disco de intérprete de compositores que ficavam meio à margem como Luiz Melodia, Fátima Guedes,etc. mas acabou compondo e fez de Malásia um dos seus melhores discos. O diferencial é que em Malásia ele se saiu muito melhor nas escolhas acertadas das músicas. Particularmente achei Ária fraco, ele já fez melhor trabalho de intérprete nos saudosos songbooks do Almir Chediak, como em "Drão".

7 de setembro de 2010 às 19:14  
Anonymous Danilo said...

Rarefeito talvez um eufemismo para sem graça. É essa a sensação que tive com um disco que eu esperava muito mais.
As minhas preferidas Luz e Mistério e Valsa Brasileira, não superam de forma alguma, os registros de Zizi e Chico, respectivamente. Fora a belíssima voz do Djavan que, infelizmente, já não é mais a mesma.

7 de setembro de 2010 às 19:42  
Anonymous Anônimo said...

Mauro, como sempre, muito exigente.

Luiz Leite - Belém/PA.

7 de setembro de 2010 às 22:39  
Blogger Luiz Leite said...

Mauro, como sempre, muito exigente.

Luiz Leite - Belém/PA

7 de setembro de 2010 às 22:41  
Anonymous Anônimo said...

Achei o cd maravilhoso. Eu esperava isso mesmo, nem mais nem menos. Djavan precisa fazer um volume 2 desse projeto, ficou lindo!!

8 de setembro de 2010 às 08:21  
Blogger Marcelo Barbosa said...

Também gostei, principalmente dos dois sambas. Povo chato à beça!
Abraços,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

8 de setembro de 2010 às 08:58  
Blogger TH said...

AInda não tive oportunidade de conferir o trabalho novo de meu conterrâneo. Esse post foi um verdadeiro "aperetivo", abrindo apetite do que certamente irei aprovar.
Obrigado

8 de setembro de 2010 às 10:30  
Anonymous Anônimo said...

Pena que poderia vender bem, caso a BF não cobrasse tão alto pelo CD. Nivaldo Oliveira

8 de setembro de 2010 às 12:04  
Anonymous Eduardo Mezzonato said...

Na minha opinião (trabalho numa grande livraria vendendo cds), achei o disco bem fraquinho. Djavan já gravou trabalhos muito melhores como por exemplo o disco "bicho solto". Ultimamente seus trabalhos não têm ganhando muita projeção nacional talvez por causa disso. Espero que da próima ele acerte. Não é nada contra ele. Apenas ao novo disco. Pois adoro ele.

8 de setembro de 2010 às 12:45  
Blogger Carlos Lopes said...

Já ouvi e parece-me fraquinho, confesso. E tenho pena. O Djavan de Seduzir, de Luz, parece difícil de voltar!

8 de setembro de 2010 às 16:29  

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