12 de setembro de 2010

Ana carrega nas tintas do bom 'Ensaio de Cores'

Resenha de Show
Título: Ensaio de Cores
Artista: Ana Carolina (em fotos de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (RJ)
Data: 11 de setembro de 2010
Cotação: * * * 1/2
Em cartaz até 12 de setembro de 2010 no Vivo Rio (RJ)
Ana Carolina faz o show Ensaio de Cores em tons oscilantes. A suposição de um som mais camerístico - gerada pela presença em cena de enxuto trio de piano (Délia Fischer), violoncelo (Gretel Paganini) e percussão (LanLan) - é de cara descontruída pelo peso instrumental que molda o registro desbotado de Rai das Cores (Caetano Veloso), primeiro número de roteiro que alinha inéditas da lavra de Ana, releituras de músicas até então nunca cantadas pela artista e vários sucessos colhidos em seus oito álbuns. Musa inspiradora desse show que passa longe da calmaria de um recital, a paixão de Ana pela pintura - exercitada desde 2002 - é o mote de As Telas e as Elas, inédito samba lento (não muito distante dos tons pastéis da Bossa Nova) em que a compositora relaciona com elegância o tema das artes plásticas com o universo das paixões que moldam seu repertório autoral. A despeito de a interpretação intensa de Força Estranha (Caetano Veloso) ser seu grandioso e maior momento, Ensaio de Cores cresce quando ganha tons suaves. Como no número em que o trio rodeia Ana na beira do palco e forma breve quarteto de cordas enquanto a cantora desfia em clima quase seresteiro a gênese do Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Contudo, Ana Carolina nunca foi cantora de tons pastéis. Fiel ao seu padrão passional, a cantora exacerba ao listar as mulheres de Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó), ao sublinhar o tom folhetinesco de algumas passagens de Alguém me Disse (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) - bonito bolero imortalizado em 1960 na voz kitsch de Anísio Silva (1920 - 1989) e introduzido no Ensaio pelo violoncelo virtuoso de Paganini - e ao reviver outros sucessos de seu repertório ao longo do roteiro que contabiliza 19 números em cerca de 1h20m de show. E o fato é que o público da artista, igualmente passional, reage calorosamente quando a cantora carrega nas tintas de temas como Heroína e Vilã (Ana Carolina e Antonio Villeroy) e Garganta (Antonio Villeroy). Garganta, aliás, fecha o show com o mesmo peso instrumental da abertura. Entre um número e outro, Ana desafia a percussionista LanLan num dueto de pandeiro, dá outra chance a duas canções menos inspiradas de seu repertório autoral (Claridade e Só Fala em mim), imprime outra tonalidade a Azul (Djavan) - tingida com divisão inusitada no único momento em que a artista fica sozinha em cena com seu baixo elétrico - e apresenta um inédito samba sincopado composto com Edu Krieger, Pra Tomar Três, unido em apropriado link temático com outro samba de universo boêmio, Cabide (Ana Carolina). Na sequência, Força Estranha (Caetano Veloso) mostra que a voz tamanha de Ana se agiganta quando encara música de seu tamanho, Quem de Nós Nós Dois (hit de Gianluca Grignani vertido por Ana e Dudu Falcão) descamba em forte coro popular e Eu Comi a Madona (Ana, Villeroy, Alvin L. e Mano Melo) reitera que a (grande) cantora se apequena quando apela para o erotismo mais vulgar. Interessante em sua essência, Ensaio de Cores não precisa de tintas fortes para entrar no tom.

9 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Ana Carolina faz o show Ensaio de Cores em tons oscilantes. A suposição de um som mais camerístico - gerada pela presença em cena de enxuto trio de piano (Délia Fischer), violoncelo (Gretel Paganini) e percussão (LanLan) - é de cara descontruída pelo peso instrumental que molda o registro desbotado de Rai das Cores (Caetano Veloso), primeiro número de roteiro que alinha inéditas da lavra de Ana, releituras de músicas até então nunca cantadas pela artista e vários sucessos colhidos em seus oito álbuns. Musa inspiradora desse show que passa longe da calmaria de um recital, a paixão de Ana pela pintura - exercitada desde 2002 - é o mote de As Telas e as Elas, inédito samba lento (não muito distante dos tons pastéis da Bossa Nova) em que a compositora relaciona com elegância o tema das artes plásticas com o universo das paixões que moldam seu repertório autoral. A despeito de a interpretação intensa de Força Estranha (Caetano Veloso) ser seu grandioso e maior momento, Ensaio de Cores cresce quando ganha tons suaves. Como no número em que o trio rodeia Ana na beira do palco e forma breve quarteto de cordas enquanto a cantora desfia em clima quase seresteiro a gênese do Violão (Sueli Costa e Paulo César Pinheiro). Contudo, Ana Carolina nunca foi cantora de tons pastéis. Fiel ao seu padrão passional, a cantora exacerba ao listar as mulheres de Todas Elas Juntas num Só Ser (Lenine e Carlos Rennó), ao sublinhar o tom folhetinesco de algumas passagens de Alguém me Disse (Jair Amorim e Evaldo Gouveia) - bonito bolero imortalizado em 1960 na voz kitsch de Anísio Silva (1920 - 1989) e introduzido no Ensaio pelo violoncelo virtuoso de Paganini - e ao reviver outros sucessos de seu repertório ao longo do roteiro que contabiliza 19 números em cerca de 1h20m de show. E o fato é que o público da artista, igualmente passional, reage calorosamente quando a cantora carrega nas tintas de temas como Heroína e Vilã (Ana Carolina e Antonio Villeroy) e Garganta (Antonio Villeroy). Garganta, aliás, fecha o show com o mesmo peso instrumental da abertura. Entre um número e outro, Ana desafia a percussionista LanLan num dueto de pandeiro, dá outra chance a duas canções menos inspiradas de seu repertório autoral (Claridade e Só Fala em mim), imprime outra tonalidade a Azul (Djavan) - tingida com divisão inusitada no único momento em que a artista fica sozinha em cena com seu baixo elétrico - e apresenta um inédito samba sincopado composto com Edu Krieger, Pra Tomar Três, unido em apropriado link temático com outro samba de universo boêmio, Cabide (Ana Carolina). Na sequência, Força Estranha (Caetano Veloso) mostra que a voz tamanha de Ana se agiganta quando encara música de seu tamanho, Quem de Nós Nós Dois (hit de Gianluca Grignani vertido por Ana e Dudu Falcão) descamba em forte coro popular e Eu Comi a Madona (Ana, Villeroy, Alvin L. e Mano Melo) reitera que a (grande) cantora se apequena quando apela para o erotismo mais vulgar. Interessante em sua essência, Ensaio de Cores não precisa de tintas fortes para entrar no tom.

12 de setembro de 2010 às 14:49  
Blogger Rener Melo said...

Ana muito talentosa. Quando ela cantou Força Estranha no Elas Cantam Roberto foi de longe a melhor voz! Sucesso sempre à ela. Porque sim ela merece.

12 de setembro de 2010 às 14:50  
Blogger Luca said...

Mauro, Ana Carolina sempre foi cantora de 'tintas fortes', desde Garganta, e todo mundo gosta dela por isso.

12 de setembro de 2010 às 19:44  
Blogger Luca said...

Esqueci de dizer: já tem bastante cantora cool no mercado da música. Nenhuma com a popularidade da Ana.

12 de setembro de 2010 às 19:50  
Blogger Daniel said...

Todas querem ser cool, mas nenhuma acaba fazendo história. A MPB elogiada e bem aceita de hoje em dia se resume a sambas com cara de 1950 entoados em monotonal.A resenha foi coerente só discordo de Claridade e Só Fala em mim serem pouco inspiradas,embora a segunda tenha a melodia mto banal, ainda se sustenta na letra, e o link entre ambas e Pra Rua Me Levar ficou mto bem encaixado. São baladas que a Ana interpreta com menos intensidade, melodias com menos arrombos ( o q os criticos sempre pedem ), mas que quando ela apresenta, ainda assim é criticada.
Já quanto a Eu comi a Madona, já tive minha fase indignado, hoje prefiro apenas achar engraçado, ela nao canta pra excitar ninguém, só pra causar, (se) divertir e fugir um pouco do politicamente correto.

13 de setembro de 2010 às 00:36  
Blogger Daniel said...

O mesmo deboche que ela usa em Eu comi a Madona é evidente quando canta, por exemplo, Entre Tapas e Beijos. Algum desavisado diria que ela recorreu a hits bregas para animar o publico , mas para isso ela tem tantos proprios que ela compos (bregas ou nao), que nem precisaria recorrer a temas alheios. Quando ela canta coisas desse modo, a expressão dela diz... gente, olhem só o que estou cantando rs!

13 de setembro de 2010 às 00:39  
Anonymous Anônimo said...

Oi Mauro
Você não citou o medley que mistura "Feriado" do Chico César, "O Amor é um Rock" de Tom Zé e "Entre Tapas e Beijos" de Lenadro e Leonardo, saiu do roteiro no Rio ? Junto com "Azul" e "Violão" para mim são os melhores momentos

13 de setembro de 2010 às 10:13  
Blogger Mauro Ferreira said...

Oi, Zé, quando terminei o texto, vi que esqueci de citar o medley. Mas ele continua no roteiro, sim.
Abs, MauroF

13 de setembro de 2010 às 10:25  
Anonymous Anônimo said...

pinceladas rápidas aqui no teu blog me fazem crer que voltarei muitas outras vezes.

15 de setembro de 2010 às 21:32  

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