29 de agosto de 2010

'É com Esse' não reedita graça de 'Sassaricando'

Resenha de Musical
Título: É com Esse que Eu Vou
Concepção, pesquisa e roteiro: Rosa Maria Araújo
e Sérgio Cabral
Direção: Cláudio Botelho
Direção musical e arranjos: Luís Filipe de Lima
Elenco: Soraya Ravenle, Marcos Sacramento, Alfredo

Del-Penho, Makley Matos, Lilian Valeska, Pedro Paulo
Malta e Beatriz Faria
Foto: Canivello Comunicação / Leonardo Aversa
Cotação: * * *
Um espetáculo de Charles Möeller & Cláudio Botelho
Em cartaz no Teatro Oi Casa Grande, no Rio de Janeiro -
RJ, de quinta-feira a domingo até 10 de outubro de 2010

Apesar de seguir a bela fórmula de Sassaricando e de ter sido formatado praticamente com a mesma equipe técnica, o (bom) musical É com Esse que Eu Vou não reedita a atmosfera de encantamento do espetáculo sobre as marchinhas, grande sucesso do teatro carioca em 2007. O desfile dos 83 sambas pesquisados por Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral - dispostos em dois atos, oito blocos e no dispensável prólogo - evolui eventualmente com graça, mas a teatralidade resulta mais rala e menos graciosa do que a de Sassaricando. Com a dupla Charles Möeller & Cláudio Botelho menos inspirada do que de costume na construção de uma dramaturgia a partir da seleção irretocável dos sambas, o espetáculo se sustenta mais no talento dos atores. Por ser também atriz, Soraya Ravenle se destaca no (excelente) elenco por uma dramaticidade mais natural que valoriza seus números. Sem falar que, como cantora, ela vive seu auge. O solo de Soraya em Amor de Carnaval (Zé Kétti, 1968) beira o sublime. Marcos Sacramento também reitera em cena sua habilidade vocal. Sua interpretação de Seu Libório (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1942) - um dos números de maior graça, aliás, pela teatralidade obtida por Möeller & Botelho na cena - é um dos melhores momentos de É com Esse que Eu Vou. Menos expressivos como cantores, mas sempre corretos, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta deixam boa impressão ao longo das duas horas de espetáculo, sendo que suas hilárias intervenções no bloco Orgia x Trabalho ganharam justos aplausos em cena aberta na estreia para convidados. Já Lilian Valeska - solista competente de sambas como Quero Morrer no Carnaval (Luís Antonio e Eurico Campos, 1961) e A Mulher que É Mulher (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1954) - não mostra em É com Esse que Eu Vou todo o brilho vocal já exibido em outros musicais cariocas. Valeska não protagoniza um número realmente memorável, assim como o vivaz Makley Matos e a surpreendente Beatriz Faria, segura ao solar sambas como Não Tenho Lágrimas (Max Bulhões e Milton de Oliveira, 1937). Pai de Beatriz, Paulinho da Viola é o narrador do texto do vídeo O Morro e o Asfalto, alocado entre o segundo e o terceiro bloco. Aliás, por falar em blocos, o sexto e o sétimo, Feminismo x Machismo e Briga x Paz, quase se confundem em cena pelos conceitos e sambas de temática similar. No todo, É com Esse que Eu Vou tem lá seus encantos pelo apuro da produção, pelo repertório e pelo elenco - vibrante ao unir vozes nos números finais - mas o fato é que, mesmo seguindo a receita que deu tão certo no ótimo Sassaricando, o atual musical focado nos sambas de Carnaval não é especialmente cativante como faz supor a sua ficha técnica...

1 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Apesar de seguir a bela fórmula de Sassaricando e de ter sido formatado praticamente com a mesma equipe técnica, o (bom) musical É com Esse que Eu Vou não reedita a atmosfera de encantamento do espetáculo sobre as marchinhas, grande sucesso do teatro carioca em 2007. O desfile dos 83 sambas pesquisados por Rosa Maria Araújo e Sérgio Cabral - dispostos em dois atos, oito blocos e no dispensável prólogo - evolui eventualmente com graça, mas a teatralidade resulta mais rala e menos graciosa do que a de Sassaricando. Com a dupla Charles Möeller & Cláudio Botelho menos inspirada do que de costume na construção de uma dramaturgia a partir da seleção irretocável dos sambas, o espetáculo se sustenta mais no talento dos atores. Por ser também atriz, Soraya Ravenle se destaca no (ótimo) elenco por uma dramaticidade mais natural que valoriza seus números. Sem falar que, como cantora, ela vive seu auge. O solo de Soraya em Amor de Carnaval (Zé Kétti, 1968) beira o sublime. Marcos Sacramento também reitera em cena sua habilidade vocal. Sua interpretação de Seu Libório (João de Barro e Alberto Ribeiro, 1942) - um dos números de maior graça, aliás, pela teatralidade obtida por Möeller & Botelho na cena - é um dos melhores momentos de É com Esse que Eu Vou. Menos expressivos como cantores, mas sempre corretos, Alfredo Del-Penho e Pedro Paulo Malta deixam boa impressão ao longo das duas horas de espetáculo, sendo que suas hilárias intervenções no bloco Orgia x Trabalho ganharam justos aplausos em cena aberta na estreia para convidados. Já Lilian Valeska - solista competente de sambas como Quero Morrer no Carnaval (Luís Antonio e Eurico Campos, 1961) e A Mulher que É Mulher (Klécius Caldas e Armando Cavalcanti, 1954) - não mostra em É com Esse que Eu Vou todo o brilho vocal já exibido em outros musicais cariocas. Valeska não protagoniza um número realmente memorável, assim como o vivaz Makley Matos e a surpreendente Beatriz Faria, segura ao solar sambas como Não Tenho Lágrimas (Max Bulhões e Milton de Oliveira, 1937). Pai de Beatriz, Paulinho da Viola é o narrador do texto do vídeo O Morro e o Asfalto, alocado entre o segundo e o terceiro bloco. Aliás, por falar em blocos, o sexto e o sétimo, Feminismo x Machismo e Briga x Paz, quase se confundem em cena pelos conceitos e sambas de temática similar. No todo, É com Esse que Eu Vou tem lá seus encantos pelo apuro da produção, pelo repertório e pelo elenco - vibrante ao unir vozes nos números finais - mas o fato é que, mesmo seguindo a receita que deu tão certo no ótimo Sassaricando, o atual musical focado nos sambas de Carnaval não é especialmente cativante como faz supor a sua ficha técnica...

29 de agosto de 2010 às 13:07  

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