15 de abril de 2010

Em cena, Luiza exibe devoção aos ritos do palco

Resenha de Show
Título: Devoção
Artista: Luiza Dionizio (em fotos de Mauro Ferreira)
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 14 de abril de 2010
Cotação: * * * *

Em show (extremamente) bem amarrado, Luiza Dionizio mostrou que também é fiel devota dos ritos do palco. Sua luminosa única apresentação no Teatro Rival (RJ), na noite de 14 de abril de 2010, põe a cantora carioca no time das intérpretes que aliam boa voz a uma bela presença cênica. O show Devoção fez crescer o repertório do recém-lançado CD homônimo. Tal como a seleção do disco, o roteiro jamais patina na obviedade. Luiza resistiu à tentação de incluir sucessos batidos do samba para se comunicar com mais facilidade com a plateia. A linha afro costura o roteiro - aberto com a Prece a Oxum que remete ao envolvente samba Prece a Xangô (Nelson Rufino e Zé Luiz do Império) feita já no bloco final - que foi regido também pela participação realmente especial de Fátima Guedes em Santa Bárbara (com gestual e vocal fortes) e Lua Brasileira, músicas da lavra sensível da compositora.
Já em um dos números iniciais, Conceição da Praia (Luiz Carlos Máxima), Luiza rodopiou pelo palco do Rival e expôs sua vivaz presença cênica. Além de exaltar a verdadeira devoção ao samba, o link de Alma (Ratinho) com Pintura sem Arte (Candeia) revelou o perfeito encadeamento do roteiro. Que fez ressoar os tambores de Minas para linkar Reis e Rainhas do Maracatu (Novelli, Fran, Milton Nascimento e Nelson Ângelo) a Rainha Negra, o tema em que Moacyr Luz e Aldir Blanc celebram a figura ancestral de Clementina de Jesus (1901 - 1987), a mãe Quelé. Como o disco Devoção, o show reiterou a beleza do samba Tempos Depois (Wanderley Monteiro e Nelson Rufino), destaque do repertório. Já Pensando Bem (João de Aquino e Martinho da Vila) ganhou mais densidade no palco. Com as palmas da platéia, a cantora mergulho na cadência meio baiana de Mar de Jangada, parceria de Evandro Lima com o mesmo Toninho Nascimento que fez (com Romildo) Fuzuê, lado B do repertório de Clara Nunes (1942 - 1983) que ressurge imponente na voz de Luiza. Que, devota de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), dedicou bloco ao um dos mais ilustre poetas do samba. A cantora recitou alguns versos de Além da Razão (Sombrinha, Sombra e Luiza Carlos da Vila), emocionou ao se emocionar com as cores poéticas de Arco-Íris (Luiz Carlos da Vila e Sombrinha), se envolveu nos Braços de Lã (Luiz Carlos da Vila) e saudou o bairro de ambos, a Vila da Penha, na romantizada Vila do meu Coração (em que os versos do saudoso Luiz e do xará Luiz Carlos Máximo superam muito a melodia). No fim, Festa da Gente (Wanderley Monteiro e Adalto Magalha) reiterou a comunhão que uniu artista, banda e público em torno da devoção ao bom samba.

6 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Em show (extremamente) bem amarrado, Luiza Dionizio mostrou que também é fiel devota dos ritos do palco. Sua luminosa única apresentação no Teatro Rival (RJ), na noite de 14 de abril de 2010, põe a cantora carioca no time das intérpretes que aliam boa voz a uma bela presença cênica. O show Devoção fez crescer o repertório do recém-lançado CD homônimo. Tal como a seleção do disco, o roteiro jamais patina na obviedade. Luiza resistiu à tentação de incluir sucessos batidos do samba para se comunicar com mais facilidade com a plateia. A linha afro costura o roteiro - aberto com a Prece a Oxum que remete ao envolvente samba Prece a Xangô (Nelson Rufino e Zé Luiz do Império) feita já no bloco final - que foi regido também pela participação realmente especial de Fátima Guedes em Santa Bárbara (com gestual e vocal fortes) e Lua Brasileira, músicas da lavra sensível da compositora.
Já em um dos números iniciais, Conceição da Praia (Luiz Carlos Máxima), Luiza rodopiou pelo palco do Rival e expôs sua vivaz presença cênica. Além de exaltar a verdadeira devoção ao samba, o link de Alma (Ratinho) com Pintura sem Arte (Candeia) revelou o perfeito encadeamento do roteiro. Que fez ressoar os tambores de Minas para linkar Reis e Rainhas do Maracatu (Novelli, Fran, Milton Nascimento e Nelson Ângelo) a Rainha Negra, o tema em que Moacyr Luz e Aldir Blanc celebram a figura ancestral de Clementina de Jesus (1901 - 1987), a mãe Quelé. Como o disco Devoção, o show reiterou a beleza do samba Tempos Depois (Wanderley Monteiro e Nelson Rufino), destaque do repertório. Já Pensando Bem (João de Aquino e Martinho da Vila) ganhou mais densidade no palco. Com as palmas da platéia, a cantora mergulho na cadência meio baiana de Mar de Jangada, parceria de Evandro Lima com o mesmo Toninho Nascimento que fez (com Romildo) Fuzuê, lado B do repertório de Clara Nunes (1942 - 1983) que ressurge imponente na voz de Luiza. Que, devota de Luiz Carlos da Vila (1949 - 2008), dedicou bloco ao um dos mais ilustre poetas do samba. A cantora recitou alguns versos de Além da Razão (Sombrinha, Sombra e Luiza Carlos da Vila), emocionou ao se emocionar com as cores poéticas de Arco-Íris (Luiz Carlos da Vila e Sombrinha), se envolveu nos Braços de Lã (Luiz Carlos da Vila) e saudou o bairro de ambos, a Vila da Penha, na romantizada Vila do meu Coração (em que os versos de Luiz Carlos superam muito a melodia do xará Luiz Carlos Máximo). No fim, Festa da Gente (Wanderley Monteiro e Adalto Magalha) reiterou a comunhão que uniu artista, banda e público em torno da devoção ao bom samba.

15 de abril de 2010 às 11:51  
Anonymous Luiz Carlos Máximo said...

Olá Mauro. Bela crítica que retrata com perfeição o impactante show da Luiza Dionizio.
Aproveito para esclarecer que na música "Vila do meu coração", a melodia e a letra são de ambos os autores. A primeira parte (letra e melodia) é de minha autoria e a segunda do amigo e parceiro que tanta falta nos faz, Luiz Carlos da Vila. Talvez a ordem de crédito dos autores possa ter lhe levado a essa compreensão. Um grande abraço.

15 de abril de 2010 às 12:36  
Blogger Mauro Ferreira said...

Luiz Grato, grato pelo comentário e pelo esclarecimento oportuno. Já refiz o texto. Abs, MauroF

15 de abril de 2010 às 12:42  
Anonymous Anônimo said...

Esqueceu de citar que Santa Bárbara, composta pela Fátima Guedes, foi gravada pela MAIOR SAMBISTA DESSE PAÍS, D. Elisabeth!
Abraços e quanto a cantora em questão, realmente deve ser muito boa. Ouvi rapidamente (ainda não comprei) o cd numa livraria e aparenta ser bastante cuidadosa com o repertório. Abraços,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

15 de abril de 2010 às 16:05  
Blogger Juli Mariano said...

Eu infelizmente perdi, mas todos os que foram (e que conheço, obviamente) sairam inebriados com o show tanto quanto você, mas ninguém havia me descrito tão detalhadamente. Obrigada por de certa forma, ter levado ao show quem não pode estar lá.

15 de abril de 2010 às 22:20  
Anonymous Anônimo said...

Só uma palavra: SHOWZAÇO!Fátima Guedes então... maravilha! Santa Bárbara dos tempos violentos...
Maria Aparecida

19 de abril de 2010 às 14:07  

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