21 de fevereiro de 2010

Luciana e Jair cantam samba sem um conceito

Resenha de CD e DVD
Título: O Samba me
Cantou
Artista: Jair Oliveira
& Luciana Mello
Gravadora: RWR
/ Universal Music
Cotação: * * 1/2

O Samba me Cantou - o trivial registro ao vivo do homônimo e inédito show que reuniu Jair Oliveira e Luciana Mello, no palco do Auditório Ibirapuera (SP), em setembro de 2009 - é retrocesso nas irregulares discografias dos irmãos. Os filhos de Jair Rodrigues - convidado de Alguém me Avisou e A Felicidade, números alocados apenas nos extras do DVD - já tinha dado passos mais inspirados no mercado fonográfico. Ele já se confirmou bom compositor em Simples... (2006), bom álbum que o aproximou do samba e de onde vem inclusive a gostosa faixa que batiza este DVD e CD ao vivo editados pelo selo RWR, dirigido por Roberto de Oliveira. Ela passeou com bom gosto por levadas de black music no disco Nêga (2007), que alternou samba, soul e funk (o dos anos 70). Existia nesses dois trabalhos um conceito. O conceito que não há em O Samba me Cantou. Antes de cantar Dor de Ressaca, samba que lançou no álbum Outro (2002), Jair diz ao público que ele e a irmã estão cantando "um pouco da nossa raiz", numa alusão ao fato real de, ainda crianças, já ouvirem na casa do pai muitos dos sambas ora regravados neste DVD e CD ao vivo. Faltou, no entanto, imprimir a identidade deles aos sambas que entoam. Cantor que parece mais à vontade ao interpretar temas próprios, Jair nada faz de especial por Coração Leviano (Paulinho da Viola, 1977) e (Tom Zé e Elton Medeiros, 1976). De seus solos, o melhor é Gente Humilde (1969), pois traz para o universo do samba a parceria póstuma de Garoto (1915 - 1955) com Chico Buarque, Vinicius de Moraes (1913 - 1980), sem o tom lacrimoso habitualmente imposto à sentimental composição. Embora sempre afinada e com suingue, Luciana nada faz de especial por Serrado (Djavan, 1979), Rosa (Pixiguinha, valsa de 1917) e Tristeza Pé no Chão (Armando Fernandes Aguiar, 1973). Efeito talvez de a seleção de repertório priorizar temas já bem conhecidos. A única pérola rara do baú é Ninguém Tem que Achar Ruim, samba de Ismael Silva (1905 - 1978), revivido por Jair. Em dueto, além da faixa-título, os irmãos cantam Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1993) e Esperanças Perdidas (Nelson Custódio e Davi Moreira, 1972), imprimindo grande vivacidade à alegre Casa de Bamba (Martinho da Vila, 1969), o número final que evoca o estilo esfuziante das interpretações de Jair Rodrigues. Quanto aos convidados, Luciana canta Orgulho de um Sambista (Gilson de Souza, 1973 - um hit do pai Jair) com Claudio Lins num tom cool que esquenta no refrão. Já Jair entoa o samba-choro A Vida em Sonho com Anna Ratto. Pena que a boa ideia de convidar Skowa e Mariene de Castro para encarnar com eles os casais trocados do samba A Nível de... (João Bosco e Aldir Blanc, 1982) não resulte com toda a graça que poderia ter. Enfim, Jair Oliveira e Luciana Mello têm todo o direito de cantar samba, mas o ideal é que houvesse um conceito que amarrasse um repertório - de preferência, menos óbvio e batido...

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

O Samba me Cantou - o trivial registro ao vivo do homônimo e inédito show que reuniu Jair Oliveira e Luciana Mello, no palco do Auditório Ibirapuera (SP), em setembro de 2009 - é retrocesso nas irregulares discografias dos irmãos. Os filhos de Jair Rodrigues - convidado de Alguém me Avisou e A Felicidade, números alocados apenas nos extras do DVD - já tinha dado passos mais inspirados no mercado fonográfico. Ele já se confirmou bom compositor em Simples... (2006), bom álbum que o aproximou do samba e de onde vem inclusive a gostosa faixa que batiza este DVD e CD ao vivo editados pelo selo RWR, dirigido por Roberto de Oliveira. Ela passeou com bom gosto por levadas de black music no disco Nêga (2007), que alternou samba, soul e funk (o dos anos 70). Existia nesses dois trabalhos um conceito. O conceito que não há em O Samba me Cantou. Antes de cantar Dor de Ressaca, samba que lançou no álbum Outro (2002), Jair diz ao público que ele e a irmã estão cantando "um pouco da nossa raiz", numa alusão ao fato real de, ainda crianças, já ouvirem na casa do pai muitos dos sambas ora regravados neste DVD e CD ao vivo. Faltou, no entanto, imprimir a identidade deles aos sambas que entoam. Cantor que parece mais à vontade ao interpretar temas próprios, Jair nada faz de especial por Coração Leviano (Paulinho da Viola, 1977) e Tô (Tom Zé e Elton Medeiros, 1976). De seus solos, o melhor é Gente Humilde (1969), pois traz para o universo do samba a parceria póstuma de Garoto (1915 - 1955) com Chico Buarque, Vinicius de Moraes (1913 - 1980), sem o tom lacrimoso habitualmente imposto à sentimental composição. Embora sempre afinada e com suingue, Luciana nada faz de especial por Serrado (Djavan, 1979), Rosa (Pixiguinha, valsa de 1917) e Tristeza Pé no Chão (Armando Fernandes Aguiar, 1973). Efeito talvez de a seleção de repertório priorizar temas já bem conhecidos. A única pérola rara do baú é Ninguém Tem que Achar Ruim, samba de Ismael Silva (1905 - 1978), revivido por Jair. Em dueto, além da faixa-título, os irmãos cantam Desde que o Samba É Samba (Caetano Veloso, 1993) e Esperanças Perdidas (Nelson Custódio e Davi Moreira, 1972), imprimindo grande vivacidade à Casa de Bamba (Martinho da Vila, 1969), o número final que evoca o estilo esfuziante das interpretações de Jair Rodrigues. Quanto aos convidados, Luciana canta Orgulho de um Sambista (Gilson de Souza, 1973 - um hit do pai Jair) com Claudio Lins num tom cool que esquenta no refrão. Já Jair entoa o samba-choro A Vida em Sonho com Anna Ratto. Pena que a boa ideia de convidar Skowa e Mariene de Castro para encarnar com eles os casais trocados do samba A Nível de... (João Bosco e Aldir Blanc, 1982) não resulte com toda a graça que poderia ter. Enfim, Jair Oliveira e Luciana Mello têm todo o direito de cantar samba, mas o ideal é que houvesse um conceito que amarrasse um repertório - de preferência, menos óbvio e batido...

21 de fevereiro de 2010 às 20:48  
Anonymous Sofia said...

E agora ??!!

Diogo falou tão bem desse trabalho e agora vem o Mauro e fala mau.

22 de fevereiro de 2010 às 00:07  
Anonymous Bi said...

Só uma dúvida ...
Não existe outro lugar em São Paulo pra se gravar um DVD além desse tal Auditório Ibirapuera ?

22 de fevereiro de 2010 às 02:45  
Anonymous Anônimo said...

Não entendi Bi pois o "tal" Auditório é lindissimo !!

22 de fevereiro de 2010 às 18:37  

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