29 de janeiro de 2010

Renata cai no samba e põe até Roberto na roda

Resenha de Show
Evento: Estação Nordeste
Título: Roda de Samba com Renata Arruda
Artista: Renata Arruda (em foto de Mauro Ferreira)
Local: Ponto de Cem Réis (João Pessoa, PB)
Data: 29 de janeiro de 2010
Cotação: * * *

Renata Arruda está caindo no samba. Em João Pessoa (PB), sua cidade natal, a cantora paraibana tem armado rodas de samba. Foi esse trabalho - realizado na sequência de seu disco mais autoral (Deixa, 2008) - que a artista apresentou ao público que esperou pela sua entrada, já aos primeiros minutos desta sexta-feira, 29 de janeiro de 2010, no palco armado na praça Ponto de Cem Réis para viabilizar parte dos shows da 5ª edição do Estação Nordeste, o festival promovido pela Funjope (Fundação Cultural de João Pessoa) às sextas-feiras e sábados deste mês de janeiro. Como anfitriã da atípica noite mineira, Renata fechou a noite na cadência bonita do samba, também atípica em seu repertório de tom habitualmente pop ou nordestino. E pôs até o Rei na sua roda, inserindo no roteiro canção despudoramente romântica de Roberto Carlos, Como É Grande o meu Amor por Você, indício do tom populista da apresentação da cantora, projetada nos anos 90.
Justiça seja feita, Renata arma sua roda de samba com animação. Dona de voz calorosa, ela tende a arriscar interpretações intensas, quase teatrais. O que dilui a leveza e a verve de sambas como Vai Vadiar e Caviar, pérolas do repertório de Zeca Pagodinho, do qual a cantora pesca também, já no fim, as óbvias Deixa a Vida me Levar e Verdade. Contudo, a vibração com que ela encara sambas como Não Deixe o Samba Morrer, Foi um Rio que Passou em Minha Vida e Tristeza acaba contagiando de fato o público - majoritariamemte gay, no caso de seu show. Sim, o resultado é oscilante, embora bom, no todo. Renata às vezes soa trivial, como quando engata pot-pourri de sambas de Martinho da Vila (Quem É do Mar Não Enjoa, O Pequeno Burguês, Pra que Dinheiro? e Canta, Canta Minha Gente) ou quando recorre a um hit do Ara Ketu (Mal-Acostumada, a rigor um forró que virou samba no registro do grupo baiano, cuja levada a banda de Renata procura reproduzir). Em contrapartida, ela se confirma cantora hábil, segura e versátil ao entoar um samba melódico do repertório do grupo Revelação, Velocidade da Luz, faixa-título do melhor CD da turma liderada por Xande de Pilares. Seria injusto não reconhecer também que ela empolga ao repetir o refrão de Quixabeira e ao manter o pique do samba-enredo Vai Passar. Aliás, a lembrança de É Hoje confirma o apelo irresistível deste belo samba-enredo lançado pela escola carioca União da Ilha do Governador, em 1982. Neste número, Renata convoca o conterrâneo Chico César - anfitrião do festival, pois ocupa desde maio de 2009 o posto de Secretário de Cultura de João Pessoa - para cair no samba com ela. Bela sacada foi também a inclusão no roteiro do frevo Bloco do Prazer, eco da fase tropical de Gal. E ainda teve longo pot-pourri de marchinhas cariocas, com direito a um pierrot evoluindo pelo palco, tal como ele fizera na abertura meio teatral em que Renata entoa o samba O Que É o que É, inicialmente da coxia, até entrar no palco e mostrar que não é doente do pé. Populismos à parte!!...

17 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Renata Arruda está caindo no samba. Em João Pessoa (PB), sua cidade natal, a cantora paraibana tem armado rodas de samba. Foi esse trabalho - realizado na sequência de seu disco mais autoral (Deixa, 2008) - que a artista apresentou ao público que esperou pela sua entrada, já aos primeiros minutos desta sexta-feira, 29 de janeiro de 2010, no palco armado na praça Ponto de Cem Réis para viabilizar parte dos shows da 5ª edição do Estação Nordeste, o festival promovido pela Funjope (Fundação Cultural de João Pessoa) às sextas-feiras e sábados deste mês de janeiro. Como anfitriã da atípica noite mineira, Renata fechou a noite na cadência bonita do samba, atípica em seu repertório de tom habitualmente pop ou nordestino. E pôs até o Rei na sua roda, inserindo no roteiro canção despudoramente romântica de Roberto Carlos, Como É Grande o meu Amor por Você, indício do tom populista da apresentação da cantora, projetada nos anos 90.
Justiça seja feita, Renata arma sua roda de samba com animação. Dona de voz calorosa, ela tende a arriscar interpretações intensas, quase teatrais. O que dilui a leveza e a verve de sambas como Vai Vadiar e Caviar, pérolas do repertório de Zeca Pagodinho, do qual a cantora pesca também, já no fim, as óbvias Deixa a Vida me Levar e Verdade. Contudo, a vibração com que ela encara sambas como Não Deixe o Samba Morrer, Foi um Rio que Passou em Minha Vida e Tristeza acaba contagiando de fato o público - majoritariamemte gay, no caso de seu show. Sim, o resultado é oscilante, embora bom, no todo. Renata às vezes soa trivial, como quando engata pot-pourri de sambas de Martinho da Vila (Quem É do Mar Não Enjoa, O Pequeno Burguês, Pra que Dinheiro? e Canta, Canta Minha Gente) ou quando recorre a um hit do Ara Ketu (Mal-Acostumada, a rigor um forró que virou samba no registro do grupo baiano, cuja levada a banda de Renata procura reproduzir). Em contrapartida, ela se confirma cantora hábil, segura e versátil ao entoar um samba melódico do repertório do grupo Revelação, Velocidade da Luz, faixa-título do melhor CD da turma liderada por Xande de Pilares. Seria injusto não reconhecer também que ela empolga ao repetir o refrão de Quixabeira e ao manter o pique do samba-enredo Vai Passar. Aliás, a lembrança de É Hoje confirma o apelo irresistível deste samba-enredo lançado pela escola carioca União da Ilha do Governador, em 1983. Neste número, Renata convoca o conterrâneo Chico César - anfitrião do festival, pois ocupa desde maio de 2009 o posto de Secretário de Cultura de João Pessoa - para cair no samba com ela. Bela sacada foi também a inclusão no roteiro do frevo Bloco do Prazer, eco da fase tropical de Gal. E ainda teve longo pot-pourri de marchinhas cariocas, com direito a um pierrot evoluindo pelo palco, tal como ele fizera na abertura meio teatral em que Renata entoa o samba O Que É o que É, inicialmente da coxia, até entrar no palco e mostrar que não é doente do pé. Populismos à parte!!...

29 de janeiro de 2010 às 14:42  
Anonymous André Roza said...

O que é que o Mauro tá fazendo aqui em João Pessoa? Gostaria de conhecê-lo.

29 de janeiro de 2010 às 14:53  
Anonymous Denilson said...

Pois é, Mauro.

Pelo seu relato, também fiquei com a impressão de que ela optou por um repertório bastante populista, que não tem nada a haver com a linha artística dela.

Acho no mínimo estranho isso. Ela que sempre teve uma certa integridade artística, na minha opinião.

Será que ela quer seguir o exemplo de certas cantoras que aderiram ao porto-seguro do samba pra poder ...? Não, não... me recuso a pensar nisso. Não quero nem completar a frase.

abração,
Denilson

29 de janeiro de 2010 às 15:28  
Anonymous Anônimo said...

"acaba contagiando de fato o público - majoritariamemte gay..."

Ainda procuro a relevância dessa informação...

29 de janeiro de 2010 às 18:20  
Anonymous Anônimo said...

Maurinho, meu príncipe!
O que aconteceu com essa gente? Por que eles estão tão assustados nas fotos? É medo da câmera, é?

beijinhos

29 de janeiro de 2010 às 18:44  
Anonymous Anônimo said...

Juro que não entendo o porque da insistência do Mauro em seus posts ele citar a sexualidade das pessoas... Isso é tão primitivo, não combina com o blog e nem com o tema que ele trata. Estranho isso...

29 de janeiro de 2010 às 21:47  
Anonymous Ricardo Sao Paulo said...

Renata Arruda so precisa ganhar um novo espaco na midia, pois talento ela tem de sobra. Ela consegue navegar em todas as areas musicais sem perder as raizes.

Parabens Renata! Seu publico te admira muito!

29 de janeiro de 2010 às 22:38  
Blogger Wagner Hardman Lima said...

Renata não se vendeu. Faz tempos que aqui em João Pessoa ela canta sambas, frevos e forrós. Muito mais pelo repertório em festas populares do que um show com roteiro para platéias pequenas e sim shows para grande público de A a E.

Até porque todo ano ela sai no trio das Muriçocas do Miramar, bloco com 400 mil foliões sem cordão, nas prévias e tem que tocar de tudo um pouco, inclusive, o popular.

Mas o Deixa, último dela é um biscoito finíssimo, que inclusive Mauro nunca citou por cá.

30 de janeiro de 2010 às 00:23  
Anonymous Anônimo said...

Renata tá mandando muito nessa roda de samba. Claro que a primeira vista é estranho ver Renata cantando samba, mas ela sempre foi eclética.
Eu adorei.
Detalhe: não sou gay e adoro o som da Renata.

30 de janeiro de 2010 às 01:37  
Anonymous Marcelo Brasilia DF said...

Mauro,

Sou fã do blog e gosto muito das suas críticas, mas uma coisa me chama muito a atenção: de vez em quando você faz questão de marcar que o público era gay, como por exemplo na resenha do show da preta gil. Preconceito? Nunca vi uma resenha sua dizendo "público hetero". Além desse comentário ser uma hipocrisia, acho totalmente desnecessário, pois acredito que você, como crítico de música, deve falar sobre o show e não sobre a preferência sexual das pessoas que vão assistí-lo. De quem gosta muito do seu blog e espera ler ainda boas notícias sobre "musica".

30 de janeiro de 2010 às 01:51  
Anonymous Paulo Moura said...

Não vou entrar na polêmica sobre a sexualidade do público.

Vamos à música...

O repertório de sambas da Renata Arruda precisa de uma auditoria. Urgente!

30 de janeiro de 2010 às 11:42  
Anonymous Anônimo said...

Mauro,

Só para retificar: o É Hoje é um samba do carnaval de 1982!
E na boa, agora envereda para o samba? Por que será? Só rindo!
Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

30 de janeiro de 2010 às 12:44  
Blogger Mauro Ferreira said...

Obrigado, Marcelo, estava na dúvida entre 1982 e 1983, mas acabei cravando 83. Gente, quanto à questão da sexualidade, estão vendo cabelo em ovo. Ressaltei isso como uma condição, sem fazer juízo de valor (o preconceito está em que lê de forma errada). Há artistas que atraem público gay. Bethânia mesmo é uma delas. E isso é apenas um dado que não confere maior ou menor valor ao público e ao artista. Abraços paraibanos, Mauro Ferreira.

30 de janeiro de 2010 às 13:30  
Anonymous Anônimo said...

Renata mantem o pique do samba-enredo " Vai Passar " ?

30 de janeiro de 2010 às 22:05  
Anonymous Anônimo said...

Poxa Mário,
eu estive lá.
Se eu soubesse teria te procurado.

Abraço pernambucano,

Dido Borges

31 de janeiro de 2010 às 02:36  
Anonymous Anônimo said...

Corrigindo:

MAURO !

Abração.

Em tempo: vc estava, na quinta-feira, bem em frente do palco?

Dido Borges

31 de janeiro de 2010 às 10:49  
Blogger Unknown said...

Adoro Renata Arruda, acho q ela deveria ter mais destaque na imprensa, vendo os post do Mauro aqui em seu blog, fiquei com vontade de visitar John People!

4 de fevereiro de 2010 às 21:47  

Postar um comentário

<< Home