8 de novembro de 2009

'Pimenteira' confirma as qualidades de Miranda

Resenha de CD
Título: Pimenteira
Artista: Pedro Miranda
Gravadora: Sem
indicação
Cotação: * * * * 1/2

Por mais que o entusiasmado texto de Caetano Veloso sobre o segundo disco solo de Pedro Miranda tenha contribuído para gerar espaço e elogios na mídia para Pimenteira, o fato é que o CD é mesmo magistral e confirma as qualidades do artista, já reveladas em abril de 2006, quando Miranda estreou na carreira solo com álbum delicioso, Coisa com Coisa. Logo na primeira de suas doze faixas - Hello, my Girl, um samba de Silvio da Silva arranjado no clima das gafieiras - Pimenteira reitera o faro apurado de Miranda para garimpar repertório longe do óbvio. Outra qualidade confirmada é a divisão esperta do canto de Miranda - habilidade que valoriza voz que nem é especialmente sedutora e volumosa. Somadas à inspiração do violonista Luis Filipe de Lima na condução da produção e dos arranjos, tais proezas dão coesão e brilho ao disco. Entre samba de gafieira (Caso Encerrado, de Eduardo Neves e Alfredo Del-Penho) e até chula (Pimenteira, composta por Roque Ferreira e gravada com o toque ruralista da viola caipira de Júlio Caldas), Miranda abre espaço para canção de tom interiorano, Baticum, parceria de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro, valorizada na gravação pelas cordas do Trio Madeira Brasil. Faixa roça o sublime. Assim como Imagem, samba melancólico de Wilson das Neves e Trambique. Os autores tocam percussão na bela gravação.

Pimenteira consegue a proeza de conciliar modernidade com tradição. Às vezes numa mesma faixa, como em Meio-Tom, o samba de Rubinho Jacobina que Miranda gravou com os vocais do conjunto Anjos da Lua, o órgão hammond pilotado por Itamar Assiere e um tom eventualmente meio falado que evoca o rap. Com sua divisão antenada, o cantor realça as síncopes de Na Cara do Gol (Elton Medeiros e Afonso Machado) e traça um perfil crepuscular do fictício Compadre Bento, escrito pelo bamba Nei Lopes com soma de referências de mulatos reais que habitaram o antigo universo do samba carioca. O trombone de Zé da Velha e o trompete de Silvério Pontes pontuam o arranjo. Mote da faixa, a nostalgia melancólica também pauta Cartas de Metrô (Moyseis Marques) e Velhice (Nelson Cavaquinho e Alcides Dias Lopes), embora a letra deste samba inédito negue qualquer "saudade da mocidade" com a fina amargura típica da obra de Cavaquinho. Por mais que um ou outro tema seja ligeiramente menos inspirado, caso do Samba da Moreninha (Pedro Amorim), Pimenteira já tem seu lugar garantido entre os grandes discos de 2009. Quando se encerra com Coluna Social, samba em que Edu Krieger exercita espirituosa crônica de costumes à moda da turma capitaneada por Zeca Pagodinho, o álbum deixa a certeza de que Pedro Miranda não precisa de elogios de Caetano Veloso - ou de qualquer outro medalhão da MPB - para ter seu valor reconhecido pela crítica e, tomara, pelo público. Pimenteira merece repercussão nacional.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Por mais que o entusiasmado texto de Caetano Veloso sobre o segundo disco solo de Pedro Miranda tenha contribuído para gerar espaço e elogios na mídia para Pimenteira, o fato é que o CD é mesmo magistral e confirma as qualidades do artista, já reveladas em abril de 2006, quando Miranda estreou na carreira solo com álbum delicioso, Coisa com Coisa. Logo na primeira de suas doze faixas - Hello, my Girl, um samba de Silvio da Silva arranjado no clima das gafieiras - Pimenteira reitera o faro apurado de Miranda para garimpar repertório longe do óbvio. Outra qualidade confirmada é a divisão esperta do canto de Miranda - habilidade que valoriza voz que nem é especialmente sedutora e volumosa. Somadas à inspiração do violonista Luis Filipe de Lima na condução da produção e dos arranjos, tais proezas dão coesão e brilho ao disco. Entre samba de gafieira (Caso Encerrado, de Eduardo Neves e Alfredo Del-Penho) e até chula (Pimenteira, composta por Roque Ferreira e gravada com o toque ruralista da viola caipira de Júlio Caldas), Miranda abre espaço para canção de tom interiorano, Baticum, parceria de Maurício Carrilho e Paulo César Pinheiro, valorizada na gravação pelas cordas do Trio Madeira Brasil. Faixa roça o sublime. Assim como Imagem, samba melancólico de Wilson das Neves e Trambique. Os autores tocam percussão na bela gravação.

Pimenteira consegue a proeza de conciliar modernidade com tradição. Às vezes numa mesma faixa, como em Meio-Tom, o samba de Rubinho Jacobina que Miranda gravou com os vocais do conjunto Anjos da Lua, o órgão hammond pilotado por Itamar Assiere e um tom eventualmente meio falado que evoca o rap. Com sua divisão antenada, o cantor realça as síncopes de Na Cara do Gol (Elton Medeiros e Afonso Machado) e traça um perfil crepuscular do fictício Compadre Bento, escrito pelo bamba Nei Lopes com soma de referências de mulatos reais que habitaram o antigo universo do samba carioca. O trombone de Zé da Velha e o trompete de Silvério Pontes pontuam o arranjo. Mote da faixa, a nostalgia melancólica também pauta Cartas de Metrô (Moyseis Marques) e Velhice (Nelson Cavaquinho e Alcides Dias Lopes), embora a letra deste samba inédito negue qualquer "saudade da mocidade" com a fina amargura típica da obra de Cavaquinho. Por mais que um ou outro tema seja ligeiramente menos inspirado, caso do Samba da Moreninha (Pedro Amorim), Pimenteira já tem seu lugar garantido entre os grandes discos de 2009. Quando se encerra com Coluna Social, samba em que Edu Krieger exercita espirituosa crônica de costumes à moda da turma capitaneada por Zeca Pagodinho, o álbum deixa a certeza de que Pedro Miranda não precisa de elogios de Caetano Veloso - ou de qualquer outro medalhão da MPB - para ter seu valor reconhecido pela crítica e, tomara, pelo público. Pimenteira merece repercussão nacional.

8 de novembro de 2009 às 11:16  
Anonymous Anônimo said...

Não acho COISA COM COISA tão delicioso assim. E para mim o problema está justamente no repertório.
E gosto bastante da voz e do canto do Pedro. Só para registrar diferenças de ponto de vista. De qualquer forma, estou ansioso para conhecer Pimenteira.

Flávio

9 de novembro de 2009 às 21:50  
Anonymous Leo said...

Coisa com Coisa é uma delícia de cd. Fiquei muito curioso com este Pimenteira. Pedro tem um canto delicioso (apesar da voz pequena), bom gosto, talento inegavel. E ainda é gato [rs]. Sucesso para ele!

10 de novembro de 2009 às 12:59  
Anonymous Anônimo said...

Estive com Pedro na primeira quinzena de Dezembro no Rio e recebi das próprias mãos dele o PIMENTEIRA de presente.
Muito bom mesmo, já estamos interpretando as músicas em Manaus no "Espaço Cultural Quintal"
Em breve traremos Pedro para o deleite dos sambistas manauras.
Parabéns e SALVE O SAMBA.

Junior Rodrigues - Manaus
Compositor de "A CASA DA MÃE DA GENTE" - Último albúm ACESA da Alcione.

20 de janeiro de 2010 às 16:32  

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