21 de agosto de 2009

Morto há 20 anos, Raul precisa ser reavaliado...

A aura mitológica que cerca a vida e a obra de Raul Seixas (1945 - 1989) tem impedido uma revisão mais justa e imparcial de sua discografia - a rigor, irregular. É certo que o Maluco Beleza já tem lugar vitalício e merecido na galeria dos artistas mais originais, criativos e pioneiros do Brasil. E o fato de estar se falando de Raul e cantando Raul tanto tempo após sua morte - que completa 20 anos nesta sexta-feira, 21 de agosto de 2009 - apenas reforça o talento do artista. Contudo, é fato também que quase ninguém escuta e analisa a discografia de Raulzito com o devido senso crítico. A rigor, todo o mito alimentado em torno de Raul se origina da força de seus cinco primeiros discos individuais. Krig-Ha-Bandolo! (1973) e Novo Aeon (1975) são obras-primas. Gita (1974) roça a genialidade deles. Já Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (1976) e O Dia em que a Terra Parou (1977), embora sejam bons discos, já começam a sinalizar a crise de criatividade que diluiria a força da obra de Raul a partir do álbum Mata Virgem (1978). A devoção do artista às drogas e ao álcool fez com que o roqueiro virasse um clone de si mesmo ao longo dos anos 80. Houve um ou outro lampejo de criatividade, perceptível em especial no álbum Metrô Linha 743 (1984), mas já era difícil identificar no Raul dos anos 80 aquele roqueiro antenado dos 70, mestre em alinhar afinidades entre Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Elvis Presley (1935 - 1977). Raul fazia rock com identidade brasileira e tinha a capacidade de se fazer entender pelo chamado grande público - qualidade que faltou à obra também pioneira do grupo Os Mutantes, o primeiro a fazer rock no Brasil sem copiar o modelo estrangeiro. O autor de Ouro de Tolo se fez notar também pelo tom corrosivo e debochado que conseguiu imprimir em sua música em plena era da censura ditatorial. Na citada Ouro de Tolo, destaque de seu primeiro álbum solo, o artista mostrou logo de cara o quão falso podia ser o milagre brasileiro. Raul Seixas foi a mosca que pousou na sopa da classe média conformista. Pena que, com o tempo, sua obra foi ficando quase tão rala como essa sopa. Ainda assim, Raul Seixas merece todos os aplausos possíveis, vinte anos depois de sua saída de cena, pelo vigor dessa obra inicial e imortal que vem sustentando o mito ao longo desses anos.

10 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

A aura mitológica que cerca a vida e a obra de Raul Seixas (1945 - 1989) tem impedido uma revisão mais justa e imparcial de sua discografia - a rigor, irregular. É certo que o Maluco Beleza já tem lugar vitalício e merecido na galeria dos artistas mais originais, criativos e pioneiros do Brasil. E o fato de estar se falando de Raul e cantando Raul tanto tempo após sua morte - que completa 20 anos nesta sexta-feira, 21 de agosto de 2009 - apenas reforça o talento do artista. Contudo, é fato também que quase ninguém escuta e analisa a discografia de Raulzito com o devido senso crítico. A rigor, todo o mito alimentado em torno de Raul se origina da força de seus cinco primeiros discos individuais. Krig-Ha-Bandolo! (1973) e Novo Aeon (1975) são obras-primas. Gita (1974) roça a genialidade deles. Já Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás (1976) e O Dia em que a Terra Parou (1977), embora sejam bons discos, já começam a sinalizar a crise de criatividade que diluiria a força da obra de Raul a partir do álbum Mata Virgem (1978). A devoção do artista às drogas e ao álcool fez com que o roqueiro virasse um clone de si mesmo ao longo dos anos 80. Houve um ou outro lampejo de criatividade, perceptível em especial no álbum Metrô Linha 743 (1984), mas já era difícil identificar no Raul dos anos 80 aquele roqueiro antenado dos 70, mestre em alinhar afinidades entre Luiz Gonzaga (1912 - 1989) e Elvis Presley (1935 - 1977). Raul fazia rock com identidade brasileira e tinha a capacidade de se fazer entender pelo chamado grande público - qualidade que faltou à obra também pioneira do grupo Os Mutantes, o primeiro a fazer rock no Brasil sem copiar o modelo estrangeiro. O autor de Ouro de Tolo se fez notar também pelo tom corrosivo e debochado que conseguiu imprimir em sua música em plena era da censura ditatorial. Na citada Ouro de Tolo, destaque de seu primeiro álbum solo, o artista mostrou logo de cara o quão falso podia ser o milagre brasileiro. Raul Seixas foi a mosca que pousou na sopa da classe média conformista. Pena que, com o tempo, sua obra foi ficando quase tão rala como essa sopa. Ainda assim, Raul Seixas merece todos os aplausos possíveis, vinte anos depois de sua saída de cena, pelo vigor dessa obra inicial e imortal que vem sustentando o mito ao longo desses anos.

21 de agosto de 2009 às 10:59  
Anonymous Anônimo said...

Os gênios são irregulares

Regularidade é pra quem faz tudo mais ou menos no mesmo nível durante todo tempo.

Uma "velha opinião formada sobre tudo" favorece a regularidade.

Raul era uma metamorfose ambulante, e a avaliação dele também tem que ser.

Não se pode produzir "ouro de tolo" em série.

21 de agosto de 2009 às 12:54  
Blogger Beni Borja said...

Mauro,

Oportuníssimo esse post. Com certeza a discografia do Raul é irregular , e a exploração póstuma da sua obra, só dilui o impacto do seu aparecimento na cena musical dos anos 70.

Concordo inteiramente com você, como qualquer ouvinte atento concordaria, que "Krig-ha-bandolo" e "Novo Aeon" são as obras-primas do Raul, e que o resto da sua discografia , tem momentos brilhantes,mas não reproduzem o nível desses dois momentos.

Mas isso faria dele um artista menor? Creio que não. Não são poucos os artistas que nós consideramos geniais e indispensáveis que na verdade tem apenas dois ou três discos que sintetizam a sua contribuição.
Me parece que eles bastam.

Raríssimos são os artistas que podem ter mais de cinco discos considerados indispensáveis. Beatles, Dylan, Miles Davis, Caetano, Benjor me ocorrem, quem mais??

O Michael Jackson , que está sendo levado a categoria de santo padroeiro do R&B americano, por exemplo, quantos discos essenciais tem? Dois - Off the wall e Thriller , o resto são bons singles em discos desiguais.

Nessa hora em que o disco como formato para música está em questão , é bom lembrar do impacto que um disco essencial tem. Eu, por exemplo, me lembro exatamente da hora e do lugar onde o meu primo Flávio tocou pela primeira vez para mim o Krig-ha , foi um momento de iluminação único.

A indústria fonográfica na sua ambição natural e míope de vender discos , acaba nos desviando dessas obras , com compilações , re-leituras e outras cretinices que diluem o momento de genialidade do artista.

Somos vítimas de uma psicose da novidade , ou seja , só se fala do "produto" durante os cinco minutos onde ele está disponível em todas as prateleiras ,e isso é uma desgraça para a música.

Alguém faria uma compilação dos melhores momentos do Machado de Assis ou do Guimarães Rosa? Claro que não. Lemos Memórias Póstumas e Grande Sertão nas sua inteireza , como leram nossos pais.

Assim para celebrar a memória do Raul , o que devia ser feito num mundo ideal, não era escarafunchar a raspa do tacho dos seus arquivos, mas re-editar as suas obras-primas com um formato bacana , do jeito que eram.

abraço ,

Beni

21 de agosto de 2009 às 13:06  
Anonymous Anônimo said...

Alguns discos ótimos, outros razoáveis, uns com "lampejos"... na soma, pelo que você diz, me parece que é melhor do que a discografia de muita gente. Tá feita a reavaliação...

21 de agosto de 2009 às 13:38  
Anonymous Anônimo said...

Raul??? não suporto o povo dizendo: "toca raul"...que coisa mais vintage!

21 de agosto de 2009 às 14:21  
Anonymous Anônimo said...

Quase todo grande artista com mais de 20 anos de carreira tem a obra irregular.
Aqui no Brasil é só me lembro de um que não é irregular, é sempre de bom pra cima, chama-se Paulinho da Viola
Toca Raulllllllll!

21 de agosto de 2009 às 18:23  
Anonymous Anônimo said...

Análise oportuna, correta, sem ser religioso.
Raul é um santo para alguns. Mas o balanço feito aqui neste blog foi certeiro.
Todos somos irregulares, até Raul e Paulinho da Viola, Chico e até Tom (em menor escala que os outros).
É por isso que toda semana, pelo menos dois dias, volto aqui.
Posso não concordar com tudo, mas pelo mesmo tudo tem coerencia.
Carioca da Piedade, que tem em vinil e em cd o disco dele com Edy Star, Sérgio Sampaio e Miriam Batucada

22 de agosto de 2009 às 08:23  
Blogger Fernando Dasilva said...

MARAVILHA OS COMENTARIOS QUE NASCERAM DESTE POST , MAURO.
ALTO NIVEL...FRASES EXCELENTES...

"..E DE MANHA ..." E JA ".. VOU BUSCAR A MINHA FLOR..."

ME SENTI INSPIRADO...

"OS GENIOS SAO IRREGULARES." LINDO

"..A INDUSTRIA FONOGRAFICA.....QUE DIMINUEM O MOMENTO DE GENIALIDADADE DO ARTISTA..."

TAO BOM QUANDO AS PESSOAS FICAM LONGE DE INTRIGAS, DISSE-ME-DISSE, GOSTO DESTE OU NAO GOSTO, DIVA MAIS, DIVA MENOS E AVALIA A ARTE COMO DEVERIA SER. TO IMPRESSIONADO.

VALEU DEMAIS PESSOAL.

QUANTO AO RAUL: EU ERA FAN QUANDO CRIANCA E ADORAVA "GITA" MAS DEPOIS ME DISTANECIEI DA OBRA DELE...UMA REVISITADA SERIA BOM PARA UMA NUNCA TARDIA RE-DESCOBERTA.

22 de agosto de 2009 às 10:17  
Blogger Unknown said...

Salve Raulzito, meu psicologo!

25 de agosto de 2009 às 18:11  
Blogger Unknown said...

Raul tem é que ser mais ouvido!
Não adianta só que ficar sobre ele e sua obra
Não é só Ouro de Tolo não
OUÇAM SOCIEDADE DA GRÃ-ORDEM KAVERNISTA
Impossível definir esse álbum que, com identidade brazuca, mistura Frank Zappa, samba, psicodelia, Pink Floyd de Syd Barret, uma doideira que só assimila quem tem música na veia
E Raul não o fez sozinho, mas junto com Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Ed Star
João Byvys

25 de agosto de 2009 às 22:42  

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