28 de fevereiro de 2009

Fado Mulato viaja por Brasil, África e Argentina

Resenha de CD
Título: Fado Mulato
Artista: Maria João
Quadros
Gravadora: Grão
Cotação: * * * * 1/2

Com chances de ganhar edição brasileira pela Biscoito Fino ao longo de 2009, o disco Fado Mulato - gravado entre 2005 e 2008, ano em que foi lançado em Portugal no mês de novembro - está totalmente impregnado da alma passional da mais tradicional música lusitana. Contudo, o fado majestosamente cantado por Maria João Quadros no álbum - originado de um show de grande sucesso - é miscigenado. A cor mulata vem dos vínculos com o Brasil e a África. O Brasil é escala importante nessa original viagem intercontinental porque todo o repertório do disco é essencialmente formado por parcerias de compositores nacionais com o poeta lusitano Tiago Torres da Silva, que vive cruzando os mares que ligam Portugal ao Brasil. Como se fosse um fadista, Ivan Lins se mostra especialmente inspirado na feitura da melodia de Quando a Noite Adormece. Já Francis Hime impõe seu estilo classicista em Eu Hei de Amar uma Onda, música na qual pôs sua voz e tocou seu piano. A África é evocada nos versos de Fado Escravo que remetem aos navios negreiros em melodia de Olivia Byington, na faixa-título - Fado Mulato, parceria de Zeca Baleiro com Tiago, presta tributo a Moçambique - e nos versos em dialeto crioulo entoados por Maria João em dueto com o cantor Tito Paris em Vais Dizer Adeus, colaboração expressiva de Chico César com o poeta português que idealizou e produziu o CD. Gravado com grandes músicos como Pedro Jóia, que toca guitarra e alaúde em Fado Mudo (Iara Rennó assina a melodia do tema), o álbum faz bem-sucedida escala na Argentina em Gente Vulgar, parceria de Tiago com Alzira Espíndola que cruza os sentimentos gêmeos do tango e do fado com o auxílio luxuoso do Quinteto Lusotango. A faixa é exemplo da habilidade ímpar de Maria João Quadros ao cantar o fado. A intérprete não segue fielmente a cartilha do fado, mas há algo de Amália Rodrigues (1920 - 1999) em seu canto. Inclusive quando entoa as duas músicas brasileiras inseridas no repertório. Amor Alheio - parceria de Ivor Lancellotti com Paulo César Pinheiro, lançada por Joanna em álbum de 1985 - se integra bem ao cancioneiro inédito. Em que pese sua letra de tom passional típico do fado, Gota d'Água soa mais destoante desde fado amulatado que refaz elos - nunca dissolvidos, a rigor - entre Brasil e Portugal.

4 Comments:

Blogger Mauro Ferreira said...

Com chances de ganhar edição brasileira pela Biscoito Fino ao longo de 2009, o disco Fado Mulato - gravado entre 2005 e 2008, ano em que foi lançado em Portugal no mês de novembro - está totalmente impregnado da alma passional da mais tradicional música lusitana. Contudo, o fado majestosamente cantado por Maria João Quadros no álbum - originado de um show de grande sucesso - é miscigenado. A cor mulata vem dos vínculos com o Brasil e a África. O Brasil é escala importante nessa original viagem intercontinental porque todo o repertório do disco é essencialmente formado por parcerias de compositores nacionais com o poeta lusitano Tiago Torres da Silva, que vive cruzando os mares que ligam Portugal ao Brasil. Como se fosse um fadista, Ivan Lins se mostra especialmente inspirado na feitura da melodia de Quando a Noite Adormece. Já Francis Hime impõe seu estilo classicista em Eu Hei de Amar uma Onda, música na qual pôs sua voz e tocou seu piano. A África é evocada nos versos de Fado Escravo que remetem aos navios negreiros em melodia de Olivia Byington, na faixa-título - Fado Mulato, parceria de Zeca Baleiro com Tiago, presta tributo a Moçambique - e nos versos em dialeto crioulo entoados por Maria João em dueto com o cantor Tito Paris em Vais Dizer Adeus, colaboração expressiva de Chico César com o poeta português que idealizou e produziu o CD. Gravado com grandes músicos como Pedro Jóia, que toca guitarra e alaúde em Fado Mudo (Iara Rennó assina a melodia do tema), o álbum faz bem-sucedida escala na Argentina em Gente Vulgar, parceria de Tiago com Alzira Espíndola que cruza os sentimentos gêmeos do tango e do fado com o auxílio luxuoso do Quinteto Lusotango. A faixa é exemplo da habilidade ímpar de Maria João Quadros ao cantar o fado. A intérprete não segue fielmente a cartilha do fado, mas há algo de Amália Rodrigues (1920 - 1999) em seu canto. Inclusive quando entoa as duas músicas brasileiras inseridas no repertório. Amor Alheio - parceria de Ivor Lancellotti com Paulo César Pinheiro, lançada por Joanna em álbum de 1985 - se integra bem ao cancioneiro inédito. Em que pese sua letra de tom passional típico do fado, Gota d'Água soa mais destoante desde fado amulatado que refaz elos - nunca dissolvidos, a rigor - entre Brasil e Portugal.

28 de fevereiro de 2009 às 10:45  
Blogger Luanda Cozetti said...

Mauro,fiquei tão feliz ao te ler...Fado Mulato,é dos discos mais bonitos que ouvi nos últimos tempos e Tiago Torres da Silva,a quem eu chamo "Fazedor de Chuva" é um artesão de palavra e gesto.
E Maria João,a a fadista blues...adoro!
Beijo grande,
Luanda!

2 de março de 2009 às 20:30  
Anonymous Anônimo said...

Dá-lhe Olivia Byington!!!!!

3 de março de 2009 às 18:34  
Blogger Manuel Correia said...

Li por alto - boa apresentacao geral.
So' Queria perguntar - Ha' ou deve de haver fados cantados por a cantora antiga a "Severa". Mas so' ha o poema! nao ha' alguma MELODIA que se possa ouvir dela!
Daqui a 100 anos, os CD'S que menciona ainda se poderao ouvir? penso que nao.
Ninguem pensa noutro formato que dura mais de 1,000,000 anos - que se chama PARTITURA!

Ou muitos destes falamentos estao ligados mais a Euros, a Reais a dolar - ou seja como dizem aqui - ligados mais ao TACHO de cada dia!

15 de junho de 2009 às 12:32  

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