1 de abril de 2008

Em show, Takai abre o leque estilístico de Nara

Resenha de show
Título: Onde Brilhem os Olhos seus
Artista: Fernanda Takai
Local: Teatro Rival (RJ)
Data: 31 de março de 2008
Cotação: * * * *
Sucesso na voz de Eliana Pittman em 1974, Sinhá Pureza nunca mereceu registro na voz de Nara Leão (1942 - 1989). Mas o tema de Pinduca, que celebrava a fusão de ritmos do Norte como o carimbó, integra o roteiro do primeiro show solo de Fernanda Takai para evocar a origem da artista - nascida no Amapá - e para abrir ainda mais o já amplo leque estético do repertório de Nara, mote do primeiro disco individual de Takai, Onde Brilhem os Olhos seus, que já vendeu expressivas 25 mil cópias desde seu lançamento, em novembro de 2007. Distribuído pela Tratore de início, o CD passou a ser comercializado pela gravadora Deckdisc.
Ao subir ao palco do Teatro Rival para gravar ao vivo sua participação no Palco MPB FM, programa da homônima emissora carioca dedicada à música brasileira, Takai apresentou no Rio, em versão reduzida, o show que estreou em São Paulo (SP), em 8 de março de 2008, e já passou por capitais como Belo Horizonte (MG) e Porto Alegre (RS) antes de aportar no Canecão (RJ), em apresentação agendada para 2 de maio, ocasião em que Takai vai completar o roteiro com incursões inéditas pelas searas de Michael Jackson (Ben), Eurythmics (There Must Be an Angel), Duran Duran (Ordinary World, rock linkado a Estrada do Sol, canção de Dolores Duran e Tom Jobim incluída por Takai no seu incensado CD solo) e da própria Nara Leão (O Barquinho e O Divã).
No show, Takai reproduz a atmosfera delicada do disco e - como no CD idealizado por Nelson Motta - se escora no instrumental inventivo do tecladista Lulu Camargo e do guitarrista John Ulhoa, mentores da sonoridade moderna que deu novas nuances ao repertório de Nara. Ao vivo, a levada pop de Debaixo dos Caracóis de seus Cabelos levanta a platéia, logo motivada a fazer coro com a cantora nos versos da música de Roberto e Erasmo Carlos. Seja o meu Céu também acelera os beats da banda com sua estilizada batida nordestina. Enquanto Com Açúcar, com Afeto (Chico Buarque) se exibe reinventada com suave pegada roqueira que evoca o som do Pato Fu, o grupo mineiro do qual Takai faz parte ao lado de Ulhoa e Camargo. "Esse disco solo não rompe com a minha história. Ele cabe perfeitamente na discografia do Pato Fu", reitera a artista em cena depois de entoar, de forma graciosa, o choro Odeon e de apresentar sua abordagem cool de Insensatez. Em sintonia com os barulhinhos bons do Pato Fu, Takai se porta no palco com desenvoltura e charme. Sem perder sua aura tímida.
Cantora de repertório multifacetado, Nara foi a primeira a dedicar um disco ao cancioneiro de Roberto e Erasmo Carlos num ano, 1978, em que a dupla de compositores ainda tinha sua obra romântica avaliada com desdém pelos patrulhadores ideológicos. É dentro deste contexto plural, permitido pela coragem de Nara em implodir rótulos e diferenças, que Takai pesca uma pérola kitsch do repertório do cantor Evaldo Braga (1947 - 1973), Esconda o Pranto num Sorriso. Com classe, e sem preconceito, Takai reduz o teor sentimental desse hit do cancioneiro popular aos níveis mínimos de glicose. A voz não é volumosa ("Sou uma cantora de microfone", assume em cena), mas, como Nara, Takai sabe abordar repertório alheio com elegância e refinamento. Ela brilha em sua primeira aventura solo nos palcos. À altura de Nara.

28 Comments:

Blogger Carlos Lopes said...

Como eu adorava ver esse show!!!
Em Portugal nem o disco está disponível... Que tristeza! Nem o último do Pato Fu...

1 de abril de 2008 às 05:42  
Anonymous Anônimo said...

Não entendo. Trata-se de alguém que canta muito pior que a Nara, que acaba de adicionar ao show músicas aquém do repertório da Nara, que veste as músicas com arranjos inferiores aos das gravações da Nara... porquê, então, não ouvir a Nara? Todo os discos foram reeditados recentemente. Não é tão difícil assim.

1 de abril de 2008 às 05:57  
Anonymous Anônimo said...

Ainda não tive oportunidade de assistir ao show, mas o CD tem rodado constantemente na minha "vitrola". É lindo! Takai tem uma desenvoltura e um jeito próprio de cantar. Nara recebeu uma homenagem à sua altura!

1 de abril de 2008 às 07:23  
Anonymous Anônimo said...

Fernanda poderia dar outro ruma a sua carreira, lançando cds assim, nesse gênero. O cd é lindo, ela canta gostoso... Deveria deixar de lado aquela chatice de rockzinho do Pato Fu....

1 de abril de 2008 às 09:26  
Anonymous Anônimo said...

Pelo visto, Fernanda Takai vai deixar de ser "aquela que canta parecido com Rita Lee da época de Mutantes" para ser a "Nara Leão do pop rock", como Nelson Motta cravou no encarte do CD.

Brincadeiras à parte, até que o CD desceu bem entre o público. Não seria assim, se não tivesse sido bem produzido e se o trio Fernanda-John-Lulu não tivesse acrescido as pitadas de personalidade nos arranjos.

Felipe dos Santos Souza

1 de abril de 2008 às 10:01  
Anonymous Anônimo said...

Pois eu ouço a Nara e a Fernanda Takai com o mesmo prazer. Duas artistas admiráveis

1 de abril de 2008 às 10:03  
Blogger Flávia C. said...

Anônimo das 5:57, não tem problema nenhum ouvir Nara também! Inclusive, é até recomendável ouvir Nara também, afinal, conhecer o que o inspirou só deixa o disco da Fernanda ainda mais interessante!

Gostaria muito de ver esse show, mas duvido que algum dia ele chegue até Londrina. :P

1 de abril de 2008 às 10:04  
Blogger Márcio said...

Ainda não tenho o CD, mas pude ver o show de Fernanda Takai sexta-feira passada aqui em Brasília e o recomendo a todos. A cantora tem uma timidez cativante no palco, e não se furta a interagir com o público. Sua voz pequena e afinada (assim como a de Nara, que não me canso de ouvir) casa muito bem com os arranjos. Nunca fui a um show do Pato Fu, de quem tenho dois discos, mas agora penso em fazer isso na primeira oportunidade.

1 de abril de 2008 às 11:20  
Anonymous Anônimo said...

Depois do bom trabalho de Cris Dellano em "Nara, uma Senhora de Opinião", tive minhas dúvidas quando a chamar Takai. Porém, esta me surpreendeu. Acho que foi perfeita a idéia do Nelson Motta em produzir este trabalho com ela. Takai tem uma postura "anti-estrela" e ainda assim é uma figura cativante.

1 de abril de 2008 às 11:40  
Anonymous Anônimo said...

Anônimo 5:57, deixa de ser azedo, o disco é delicioso. Confesso que tinha resistência com o Pato Fu (minha antipatia começa com o nome do grupo, acho horrível), mas a crítica de Mauro me despertou a curiosidade, baixei na rede, gostei, comprei o CD.

1 de abril de 2008 às 12:18  
Anonymous Anônimo said...

eu tbm adorei o cd,espero q ela grava em dvd esse show!

1 de abril de 2008 às 12:32  
Anonymous Anônimo said...

É interessante observar como os cantores ficaram auto-referentes de uns tempos para cá. São os tais 'tributos', que mais servem aos tributários do que aos homenageados. Isso não é necessariamente ruim, mas é uma tendência curiosa.

Não falo obviamente dos songbooks de compositores, coisa que as cantoras americanas já faziam em meados do século passado. Falo de homenagens de intérpretes a intérpretes. São projetos como 'A Dama do Encantado'(Byington/Aracy), 'Estava Escrito' (Ney/Angela), 'Astronauta' (Joyce/Elis), 'We All Love Ella' (Diversos/Ella Fitzgerald), 'Batuque' (Ney/Carmen), 'Onde Brilhem os Olhos Seus' (Takai/Nara), 'Claridade' (Alcione/Clara), 'Divina Saudade' (Zezé/Elizeth), 'Amigos' (Diversos/Angela), 'Pela Saudade que me Invade' (Angela/Dalva), 'Nara, Uma Senhora Opinião' (Delanno/Nara), entre outros.

O mesmo acontece com peças sobre teatro, filmes sobre cinema e novelas sobre televisão.

1 de abril de 2008 às 12:33  
Anonymous Anônimo said...

Pois é Luc, você levantou uma questão interessante. Há tributos e tributos. Alguns me parecem ser realizados com a intenção real de homenagem. Muitos me parecem ser meras fórmulas de caça níquel. No caso da Fernanda Takai eu acredito na idéia de homenagem porque foi um projeto que partiu de Nelson Motta, alguém que teve um vínculo real com Nara. Mas que virou uma febre, isso virou.

1 de abril de 2008 às 12:53  
Anonymous Anônimo said...

"Porque não ouvir a Nara?"

Ouça o CD da Fernanda e verá que as músicas não estão apenas reproduzidas, mas estão REVISTAS com muito charme e toque de modernidade - são releituras e não regravações - como muita gente confunde.
E óbviamente evoca a memória de Nara Leão.

1 de abril de 2008 às 13:48  
Blogger Flávia C. said...

É, Luc... de repente a metalinguagem ficou interessante...

1 de abril de 2008 às 14:04  
Blogger Vinhal said...

O show aqui em Brasília foi muito bom, mesmo.

Exatamente uma semana antes, estava no show do Pato Fu, no projeto Móveis Convida (do Móveis Coloniais de Acaju).

Foi muito bom ver a Fernanda nos dois shows, um bem mais intimista (até pelo local, o solo em um teatro com 402 lugares e o do grupo em uma tenda universitária com umas 3 mil pessoas) que o outro.

Buscando semelhanças, Fernanda é muito desenvolta com o público, maravilhosamente simpática e descontraída no ponto perfeito.

Algumas semanas antes havia ido ao show da Maria Rita, e foi de uma diferença tremenda em termos de desenvoltura no palco. Fernanda parece muito mais verdadeira, mais próxima e bonita.

(Nada contra Maria Rita, mas no quesito show ela deixa mesmo a desejar.)

1 de abril de 2008 às 14:56  
Anonymous Anônimo said...

Ainda nao vi o show, estou na expectativa quem venha a Curitiba. Mas alguém aí disse que nunca ofi a um show do Pato Fu. Vá! As músicas que já são boas no CD (se vc tiver paciência de ouvir antes de rotular) ficam muito melhores no palco. Eles sabem dosar ternura e diversão, momentos pra pular e pra chorar, é catarse pura. Com os fãs gritando os pedidos de músicas de todos od discos e sendo atendidos.

1 de abril de 2008 às 16:35  
Anonymous Anônimo said...

Eu ouvi o cd da Fernanda e por isso concordo com o post acima.Os arranjos são fracos. A Fernanda parace que tem seu charme.Mas em relação ao disco tenho opinião parecida.Acho fraco.
Como não conhecia o Patofu, fiquei surpreso ao ouvir o disco, pois achei uma imitação dos mutantes, até acharia legal a influência dos mutantes, algo natural. Mas assim tão igual?
Muitos artistas crescem nos shows, serà o caso da Fernanda?

1 de abril de 2008 às 17:55  
Anonymous Anônimo said...

Gostei de:toques de modernidade.Que coisa mais antiga!

1 de abril de 2008 às 17:58  
Anonymous Anônimo said...

Matheus,

Fui no show da Fnac na sexta passada, mas na boa, não curti tanto! O disco é uma beleza! Mas ao vivo não me convenceu muito! Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

1 de abril de 2008 às 18:29  
Anonymous Anônimo said...

Esse CD é simplesmente delicioso, um dos melhores dos últimos anos. E o show é muito bom também. Pra mim, acertou o Nelson Motta em sugerir e a Fernanda Takai em acertar.

1 de abril de 2008 às 22:28  
Anonymous Anônimo said...

Esse pato eu não pago!

1 de abril de 2008 às 23:04  
Anonymous Anônimo said...

O repertório de Nara era um senhor leque de composições e tendências. Acheio o disco da Takai mediano, onde ela se dá bem, ela acerta em cheio como em Com açúcar, com afeto e Insensatez, mas há umas releituras que mudam os ritmos originais das músicas que não me convenceram muito. Mas no geral ficou muito charmoso, espero que o show também o seja.

2 de abril de 2008 às 10:35  
Blogger Márcio said...

Marcelo, ao contrário da FNAC de Pinheiros em São Paulo e da Livraria Cultura de Brasília (para dar dois exemplos), a FNAC de Brasília não tem um auditório de verdade. O "palco" é minúsculo, o "espaço" é o do café, com a retirada das mesas. Então, na boa, o que se vê por lá é um arremedo, uma amostra-grátis de show, em vez de um show de verdade. Pelo menos foi assim nas vezes em que lá estive nessas ocasiões. Quero crer que se você tivesse visto o show completo de Fernanda Takai, como o que rolou no espaço Brasil Telecom, seu conceito sobre ele seria melhor.

2 de abril de 2008 às 11:44  
Anonymous Anônimo said...

Legal Marcio, mas foi a impressão que tive. Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

Aliás, a galera da cidade marcando ponto no Notas Musicais (eu e Anderson, agora, Matheus e Márcio que são novos). Legal!

2 de abril de 2008 às 13:15  
Blogger Luiz Fernando said...

Takai é corajosa, permanecer fiel a um estilo próprio de cantar que chega a ser um contrasenso num país onde pra ser considerada boa cantora tem que gritar ou ter voz grossa! De vez em quando é bom algo fora da ordem.

2 de abril de 2008 às 15:47  
Anonymous Anônimo said...

Mais uma opinião brasiliense, então.

Quando o álbum "Onde brilhem os olhos seus" era apenas um rumor, devo admitir que fiquei um pouco apreensiva. Até o momento, a única semelhança que via entre Nara e a Takai era fisica (branquinhas, cabelo preto).

Quando ouvi o disco, me apaixonei de cara. A Fernanda acertou na escolha de repertório, nos novos arranjos. Enfim, foi uma homenagem bonita e não oportunista.

Ao vivo as músicas ficaram ainda melhores. Parte pela simpatia da Takai no palco e também por comprovar que nenhum retoquezinho de estúdio melhorou precisou melhorar as músicas. O repertório "extra" é uma prova da semelhança entre Nara e Takai. Nelson Motta afirmou que as duas levavam a carreira de uma forma parecida. Para mim, o show de "Onde brilhem os olhos seus" é uma prova disso. Ao invés de incorporar Bossas, canções do Opinião ou qualquer outra referência óbvia à Nara, Takai foi além.

O show da última sexta-feira, em Brasília, foi encantador, ainda mais que o CD.

Espero que os fãs do Pato Fu abram os olhos para Nara e que os admiradores da musa da Bossa Nova saibam fazer o mesmo com o trabalho de Fernanda Takai.

2 de abril de 2008 às 16:31  
Anonymous Anônimo said...

Bem vinda! Mais uma adepta do povo da Belacap!rs Abs,

Marcelo Barbosa - Brasília (DF)

2 de abril de 2008 às 20:11  

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